quinta-feira, 9 de agosto de 2012

E eu mergulhei nas águas do açude...

"Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar. Viver é muito perigoso... " - jagunço Riobaldo - Grande Sertão: Veredas - JGR

Para mim foi momento solene.

Imaginar quantos mortos há debaixo dessas águas. Os cemitérios de Canudos, de Belo Monte.

Os sertanejos mortos no confronto. Estima-se que 20 mil conselheiristas, para mais, ou para menos, estejam sepultados aqui. Creio que grande parte nem tenha recebido sepultamento, propriamente, pela forma do desenrolar da guerra.

E mais os soldados combatentes mortos. As crianças, os velhos, as mulheres.

Quanto sofrimento eu imagino ter corrido aqui. O diabo na rua, no meio do redemunho. E o que talvez seja o maior milagre de todos, a enorme paz que eu sinto estando aqui. Teria a fé do Conselheiro e dos sertanejos da cidadela sublimado toda a memória do sofrimento, da guerra, desse lugar?

E que caminhos foram esses que me trouxeram até aqui?

Tive medo de sair para essa peregrinação. Não sabia se chegaria até aqui.

Pois bem, cheguei, e agora o momento mais difícil, o de mergulhar nessas águas, sabendo tudo o que eu sei. Tenho medo?

E eu mergulhei nas águas do açude...

Que estranha comunhão é essa que me leva a mergulhar nessas águas, de tantos mortos, de beber essa água salobra, de comungar dos restos mortais dessa gente, sangue do meu sangue brasileiro, dessa guerra fraticida, respeitosamente?

Seria a vontade de morrer também, e sair daqui renascido, para outros rumos, para o futuro, que está acima do futuro, e não debaixo do passado?

Agora eu sei menos do que eu sabia. E escrevo essas mensagens não para o leitor do blog, mas para mim mesmo, para tentar descobrir o que aconteceu comigo nessa peregrinação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário