quarta-feira, 25 de julho de 2012

Calma!

[Ruínas da Igreja velha de Canudos, surgindo no açude de Cocorobó devido à baixa do nível de água pela seca na região]


Amigos, fui obrigado a esperar um pouco para a continuidade do relato: faz-se necessário tempo para que eu termine a leitura de alguns livros indicados no decorrer da viagem, a fim de inserir as devidas considerações no blog. Em breve, novos posts.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

O fantástico relato do primeiro confronto...

Logo que chegamos ao arraial, no dia 19, mandei estabelecer o serviço de segurança, postando guardas avançadas nas quatro estradas que ali conduzem em distância conveniente, a fim de evitar qualquer surpresa; nomeei o pessoal de ronda e conservei toda força no acantonamento. O dia 20 passou-se sem incidente notável, a não ser o abandono do arraial à noite e furtivamente por uase todos os habitantes. Das informações que colhi, conta que assim procederam em receio da gente do Antônio Conselheiro. Inclino-me, porém, a crer que se achavam macomunados com este para atraiçoarem a força pública, como o fizeram, pois que até os poucos que ficaram no arraial não foram ofendidos pelos bandidos e garantiram-me antes do combate que ali não havia fanáticos, nem adeptos de Antônio Conselheiro; que este e o seu povo se achavam em Canudos, de onde não sairiam, não obstante terem eles a certeza, quando isso afirmavam, de que os mencionados bandidos se achavam a quatro léguas de distância, dirigidos por Quinquin Coyan e iriam atacar a força na madrugada do dia imediato.

Às 5 horas da manhã do dia 21, fomos surpreendidos por um tiroteio partido da guarda avançada, colocada na estrada que vai ter a Canudos. Esta guarda, tendo sido atacada por uma multidão enorme de bandidos fanáticos, resistiu-lhe denodadamente, fazendo fogo em retirada. Por esta ocasião, o soldado da 2a Companhia, Teotônio Pereira Bacelar, que por se achar muito estropiado, não pode acompanhar a guarda, foi degolado por um bandido. Imediatamente, dispus a força para a defensiva, fazendo colocar em distância conveniente uma linha de atiradores, que causou logo enormes claros nas fileiras dos bandidos. Estes, não obstante, avançavam sempre, fazendo fogo aos gritos de "Viva o nosso Bom Jesus! Viva o nosso Conselheiro! Viva a monarquia!" etc., chegando até alguns tentarem cortar a facão os nossos soldados. Um deles trazia alçada uma cruz de madeira, e muitos outros traziam imagens de santos em vultos. Avançaram e brigaram com incrível ferocidade, servindo-se de apitos para a execução de seus movimentos e manobras. Pelo grande número que apresentavam, foram por algumas praças calculados em 3 mil! Há, porém, nisso exagero, proveniente de erro de apreciação; seriam uns quinhentos, mais ou menos, os que nos atacaram, divididos em vários grupos, que procuraram envolver a nossa força e apoderar-se do arraial, o que não conseguiram devido às enérgicas prividências que tomei, eficazmente auxiliado pelos oficiais e a disciplina das praças. Conseguiu, entretanto, grande número deles, apoderar-se de algumas casas abandonadas, que se achavam desguarnecidas por insufucuência de tropa e de onde nos fizeram algum mal, sendo necessário incendiar as ditas casas a fim de desalojá-los, o que conseguimos depois de algum trabalho. Chegados a esta fase do combate, depois de mais de quatro horas de luta, conhecendo que eles já se achavam desmoralizados, pela dificuldade com que respondiam ao nosso fogo, e porque já tentavam fugir, passei a tomar a ofensiva, e fiz persegui-los até meia légua de distância, morrendo muitos deles nessa ocasião, e ficando o resto completamente desbaratado. Não levei mais longe a perseguição e mandei tocar a retirada, por constar-me achar-se um grande reforço deles um pouco adiante, e por estar a nossa gente cansada e sem alimentar-se desde a véspera. Além disso, cumpria-me reunir os elementos que me restavam, a fim de resistir a uma nova agressão que porventura se desse. Seria um pouco mais ou menos meio-dia, quando terminou essa luta, com o regresso de nossas praças ao acantonamento, sem que durante a perseguição tivesse sofrido prejuízo algum. Na fase mais aguda do combate, houve fogo renhido e incessante de parte a parte, durante mais de quatro horas. Todos os oficiais inferiores e praças portaram-se nessa grave emergência com um heroísmo e uma disciplina sem par, o que muito concorreu para o seu bom êxito, faltando-me palavras com que possa exprimir o procedimento nobre, correto e o entusiasmo de que deram exuberantes provas, honrando assim a corporaçãoa que pertencemos.

Os inimigos deixaram nos campos e dentro das casas que ocupavam mais de cento e cinquenta cadáveres, sendo incalculável o número de feridos que tiveram e dos que foram morrer pela estrada ou dentro da caatinga. As nossas perdas foram aliás insignificantes quanto ao número, sendo, porém, dolorosamente sensíveis e lamentáveis, por terem sido vitimados pelas balas dos bandidos o distinto e temerário alferes Carlos Augusto Coelho dos Santos, o bom e destemido segundo sargento Hemetério Pereira dos Santos Bahia, os valorosos cabo-de-esquadra Manoel Francisco de Souza, anspeçada Antonio Joaquim do Bonfim, soldados Herculano Ferreira de Araujo, Vitorino José dos Santos e João Crisóstomo de Abreu, além do já citado Bacelar, que foi degolado no começo da ação, tendo sido assim a primeira vítima. Ficaram feridos gravemente (cita o nome de 11 praças); levemente (cita o nome de 6 praças). Faleceram também na luta, os paisanos Pedro Francisco de Morais e seu filho João Batista de Morais, que nos serviram de guias, e que se portaram com galhardia na ocasião do combate, juntando-se à força e enfrentando os bandidos. Eram ambos casados e deixaram as famílias sem recursos. Perdemos, portanto, um oficial, um inferior, um cabo-de-esquadra, um anspeçada e quatro soldados, que com os paisanos dão um total de dez homens mortos no referido combate. Me cumpre anotar ainda que alguns casos de morte se deram por excesso de bravura, praticados pelas vítimas que se expunham, sem necessidade, às balas do inimigo. Os cadáveres do oficial e das praças foram cuidadosamente sepultados na capela do arraial, os dos bandidos ficaram insepultos por não dispormos de tempo, de pessoal nem de instrumentos necessários para o enterramento deles. Fomos obrigado a retirar para Juazeiro, na tarde do mesmo dia do combate, não só para evitar o mal que poderia advir da decomposição de tantos corpos, como também pela falta de víveres e outros recursos em Uauá.

Os bandidos estavem armados em grande parte com carabinas Comblain e Chuchu, outros tinham bacamartes, garruchas e pistolas, e quase todos traziam, além das armas de fogo, grandes facões, foices e machados. O Dr. Antonio Alves dos Santos, médico-adjunto do exército, que acompanhou a força, prestou reais serviços durante o combate, tratando as praças feridas com interesse e desvelo, mostrando-se na altura da humanitária missão que lhe fora confiada; tendo, porém, depois de terminada a luta, apresentado sintomas de desarranjo mental, entreguei os feridos logo que cheguei a Juazeiro aos cuidados do facultativo civil, Dr. Antonio Rodrigues da Cunha Melo, que se encarregou do tratamento, fazendo-o com dedicação, solicitude e interesse, operando até algumas praças, no que foi auxiliado pelo cirurgião-dentista Brígido Pimentel, que muito se prestou durante alguns dias, com incansável zelo.

Armamento -  O fuzil Mannlicher, de que se acha ainda armado o batalhão, conquanto seja de repetição e de grande alcance, com o seu projétil dotado de uma força de penetração extraordinária, e dando um tiro de justeza admirável, contudo, não compensa com essas qualidades, aliadas a muitas outras que possui, o prejuízo resultante da extrema delicadeza de seu mecanismo que facilmente se estraga, ficando o fuzil reduzido a simples arma branca, quando adaptado no extremo do cano o competente sabre-punhal. Basta um pouco de poeira ou um simples grão de areia na câmara para que não possa o ferrolho funcionar.

Acontece, além disso, que com o fogo um pouco prolongado, os carregadores não podem entrar no depósito com o número de cartuchos regulamentares, dilata-se o aço do cano que, aumentando o diâmetro, dificulta a introdução dos cartuchos para tiro simples, não podendo a arma funcionar como as de repetição. Daí um grande número de armas incapazes para o seu mister na ocasião oportuna, como aconteceu durante o combate em que tive que tomá-las das mãos das praças, a fim de ver se conseguia fazê-las funcionar, sendo infrutíferos todos os esforços nesse sentido.

Mesmo em muitas das armas que funcionavam, o extrator, peça de grande delicadeza, perdia a necessária justeza e enfraquecida a mola deixava de extrair o cartucho, que tinha que ser extraído à mão, o que prejudicava a rapidez do tiro. Esse armamento não convém ao nosso exército, por não dispor ainda de meios de transporte fácil, rápido e cômodo, de que dispõem os exércitos europeus; não merece a confiança dos oficiais, nem das praças que dele se utilizam, por não poderem contar, com segurança, com seus bons efeitos numa emergência qualquer.

Não obstante os assíduos cuidados que tive pela boa conservação do armamento das praças, pois que, como é intuitivo, do estado dele dependerá em grande parte, em uma dada circunstância, a vitória ou derrota de nossa força, ainda assim tive o desprazer de observar o que venho de referir. Durante o combate muitas armas ficaram também inutilizadas por outros motivos, umas perderam os respectivos ferrolhos que saltavam com a violência do choque na defesa a arma branca, outras tiveram as coronhas partidas a talho de facão ou por balas, muitas sem seus sabres-punhais, e outras com os depósitos arrebentados. A poeira e as escabrosidades das estradas, o calor de um sol abrasador e insuportável, as condições em que foram feitas as marchas, sem comodidade de ordem alguma, tudo isso frustrando meus previdentes cuidados, deram o resultado acima apontado. Acontece ainda que essas armas, que serviram na campanha de São Paulo e Paraná, em 1894, já se achavam bastante usadas, tendo a maior parte delas sofrido consertos. Outras fossem as condições de resistência e solidez de seu mecanismo, e melhor teria sido o resultado obtido na luta.

Fardamento - O das praças que compuseram a força de meu comando ficou bastante estragado, em estado mesmo de não poder servir, devido à ação dos raios solares, da chuva e da poeira e ainda do uso constante que dele fizeram, por necessidade, pois não só marchavam, como dormiam com ele à noite, sobre o solo nu e barrento das estradas, pela falta de barracas; e também pela necessidade de conservar-se a força sempre em armas em sítios cuja topografia nos era desconhecida, e não nos podíamos fiar em informações adrede preparadas, com o intuito de nos iludir. Muitas praças tiveram ainda algumas peças de seus uniformes perdidas por completamente inutilizadas, como fossem túnicas de flanela cinzenta e calça de pano grosso, rasgada pelos galhos de árvores e espinhos das picadas, estradas, etc. Algumas perderam nas marchas os capacetes de couro, outros tiveram no combate os gorros e os capotes crivados de balas ou cortados de facão, em farrapos e ensanguentados. Ainda outros perderam os gorros, tirados pelas balas. O calçado, incapaz de resistir a uma marcha tão longa e por tão maus caminhos, estragou-se, ficando um grande número de praças descalças.

Disciplina - Foi mantida em toda a sua plenitude, sem que tivesse havido infração alguma digna de nota, durante todo o período de meu comando. Quartel da Palma, na Bahia, 10 de dezembro de 1896. Manoel da Silva Pires Ferreira

[Tendo partido de Juazeiro a 12 de novembro de 1896, a força do tenente Pires Ferreira, composta por cerca de 100 praças, chegou a Uauá a 19, depois de uma marcha de 192 Km]

Extraído de: Expedições militares contra Canudos - Seu aspeco Marcial - Tristão de Alencar Araripe     

O início da Guerra: primeira expedição militar - Tenente Pires Ferreira

[foto da Igreja Matriz de Uauá (Vaga-Lume em tupi-guarani): atual cidade capital nacional do Bode - Cidade dos Vaga-Lumes]

O Conselheiro havia encomendado na cidade de Juazeiro a madeira para o telhado da Igreja Nova de Belo Monte. Frente à demora na entrega, uma vez que paga e não entregue, surge um boato, de que o Conselheiro iria buscar pessoalmente o pedido. Daí surge o melindre das autoridades locais que solicitam o envio de força pública para a defesa da cidade.

Não se sabe ao certo o quanto foi um ajuste político e imotivado das autoridades de Juazeiro a requisição de força pública, e o quanto os conselheiristas representavam de fato uma ameaça de invasão à cidade. Ou o quanto foi decidido, de maneira deliberada, não proceder à entrega da madeira, de forma a servir de mote ao início da campanha, tendo em vista que Canudos a essas alturas já incomodava muita gente.

A cidade crescia. Já faltava mão de obra nas fazendas. Havia muitos coronéis incomodados.

Fato é que essas circunstâncias acabaram culminando com a mobilização de tropas do exército, sob o comando do tenente Pires Ferreira, levando ao famoso embate em Uauá.

Prédicas do Conselheiro

Apenas um trecho de um sermão do Antônio Conselheiro, extraído do seu manuscrito encontrado como espólio em Belo Monte:

"Quem desconhecerá que aquele que comete o furto serve de animação para os outros cometê-lo?
Diz São Crisóstomo que os que furtam os bens alheios são piores que as feras e que os demônios, e como tais os deviam riscar do catálogo dos homens.
Porque as feras, quando acometem aos outros animais, estando satisfeitas os deixam. Porém, os que furtam, de nenhum roubo ficam satisfeitos. Porque ficam com fome para fazerem outro. E quanto mais furtam, mais sede têm de furtar.
Furta o negociante que oculta os defeitos da fazenda na vara, no côvado, no peso, na medida. Misturam a bebida com água.
Quando o objeto não tem pouca venda, deixa de vender para aproveitar a ocasião da falta, para exigir mais do que pode vender. Aproveita-se da ignorância do vendedor e do comprador. O juro excessivo que exige daqueles que estão na precisão. Furta o patrão, quando se aproveitando da necessidade do operário, e não lhe paga seu trabalho como deve. Furta o artista quando não trabalha com diligência.


Vejam no link abaixo um documentário sobre os Sermões do Conselheiro, realizado pela TV Senado:

http://www.youtube.com/watch?v=EI1EoUKiZb8&feature=relmfu

Imagino que esse material desmistificará muito do preconceito ao redor da imagem do Conselheiro.

Em que pese ser difícil conceber quem foi o Conselheiro. Os que melhor souberam viveram no seu tempo, e foram sertanejos. Para nós, difícil sequer tangenciar a sua realidade.

Agora ele é um mito. E quando alguém vira um mito, acho que perde um pouco a importância a sua realidade física e circunstancial da sua vida. Mas não custa tentar um pouco.

Quem você acha que foi o Conselheiro?

O Conselheiro

[painel com imagem do Conselheiro - Parque Estadual de Canudos]

Nasce Antônio Vicente Mendes Maciel na vila de Quixeramobim, província do Ceará, em 1828.

Lutas de sua família com outra eram fatos do passado, não atingiram sequer o seu pai, comerciante remediado e honrado, proprietário de algumas casas, na vila.

Coloca-o o pai na escola do professor Manuel Antônio Ferreira Nobre. Estuda aí português, francês e latim.

Quando contava vinte e sete anos, falece-lhe o pai. Requer em juízo o inventário dos seus bens, cujo acervo foi absorvido pelas dívidas. Como caixeiro que é do estabelecimento, assume a sua direção e toma conta das irmãs. Era órfão de mãe desde os seis anos de idade.

Em petição do próprio punho requer no inventário e obtém a anuência dos credores para a dilação do pagamento das dívidas, dando-lhes garantia hipotecária.

A 7 de janeiro de 1857, às 20 horas, contrai casamento na matriz de Santo Antônio de Quixeramobim.

Neste mesmo ano liquida a casa comercial e passa a lecionar português, aritmética e geografia numa fazenda vizinha.

Tenta melhor sorte em Tamboril, depois em Campo Grande. Aqui é de novo caixeiro, mas, passado algum tempo, o dono fecha a casa de comércio e ele se vê outra vez desempregado.

Diz Euclides da Cunha que foi escrivão de paz e solicitador. Na verdade milita no foro em Campo Grande e Ipu como advogado provisionado.

Nesse importante município de Ipu, sua mulher foge com João da Mata, furriel da força pública da província.

Daí por diante, muda inteiramente a vida de Antônio Vicente Mendes Maciel.

Desde que liquidara a casa comercial, foi ascendendo a profissões mais elevadas, escrivão, solicitador, advogado.

Desfeito, porém, o lar de modo tão oprobioso, sua vida desdobra-se em duas fases. A primeira é a de instabilidade nos serviços a que se dedica e na contínua mudança de residência e de profissão, em numerosos municípios do centro e do sul da província. É até vendedor ambulante.

Tais circunstâncias tornam verossímil a suposição de que passou a procurar, por toda a parte, a mulher e seu sedutor para vingar-se exemplarmente, tal o ódio aos traidores da sua confiança e maculadores do seu lar.

Não há outra explicação para a sua vida andeja. Sua presença é notada em muitos pontos do Ceará. Tudo, porém, em vão. Não os encontrou nunca.

Diz Euclides da Cunha que se passaram dez anos sem notícias suas.

O certo é que ele precisa ganhar a vida de modo estável. É quando em certa localidade de Pernambuco se propõe erguer os muros e construir o cemitério.

Principia agora a segunda fase daquele doloroso transe. Igual atividade desempenha em outros povoados. Comprovada a sua competência, passa a construir cemitérios, capelas e igrejas, com grande êxito. Euclides diz que suas igrejas são "sempre elegantes". É o adjetivo elogioso que emprega mais de uma vez. Com relação à do Bom Jesus, diz "belíssima igreja que lá está".

Euclides acrescenta que ele também construía açudes.

Mister assim contínuo e em contato com o povo religioso, a pouco e pouco vai influindo seu ânimo, até fazê-lo voltar à fé primitiva, a de sua formação espiritual.

Ao reabraçar o cristianismo, é exigência o perdão aos que lhe haviam feito tanto mal. Perdoa-os e esquece para sempre o passado.

Lentamente se vai engrossando o número dos que o auxiliam na construção de cemitérios e igrejas. Acompanham-no de arraial a arraial e de povoação a povoação.

Imbui-se de tal forma da nova concepção de vida, que executa aquela engenharia com alto espírito religioso. Sua aparência exemplar é de penitente, notada por todos que o têm na maior consideração. Não alimenta feições humanas incompatíveis com a sua vida de peregrino, mas é estimado por quantos lêem a sinceridade em todos os seus atos.

Por tal forma a sua personalidade desperta a atenção geral que, confiantes, muitas pessoas lhe fazem confidências. Dele se aproximam para pedir-lhe conselho e as suas palavras lhes serve de lenitivo.

Passa a sofrer a desgraça alheia. Aos que guardam o ódio e a sede de vingança em seus corações, Antônio Maciel, que tudo perdoara e tudo esquecera, com a maior sinceridade lhes desperta o espírito cristão e junto com o desgraçado recita as orações populares do Pai Nosso e Ave Maria.

Acolhe com carinho principalmente as vítimas da politicagem infrene, do fisco voraz e das arbitrariedades policiais. Quantos, para tranquilidade de espírito, enxergando as virtudes daquele homem, lhe pedem para ficar em sua companhia, trabalhando naquelas obras pias, em que se ganhava a vida de modo honesto. Passam a acompanhá-lo espontaneamente.

Gente de todas as condições sociais acolhe-se ao grupo do conselheiro. Basta ser de vida honrada.

De novo é notada a presença de Antônio Vicente Mendes Maciel em muitos municípios, já agora acompanhado de numeroso grupo de auxiliares na construção de cemitérios e igrejas. Considerável o número de povoações em que não há sacerdote e de paróquias sem pároco. Ele dirige as orações que o povo costuma fazer às tardes. E suas prédicas são de grande fruto.

Aqui ou ali há oposição por parte de certos sacerdotes e políticos, principalmente dos padres políticos. Ao contrário da maioria, estes não compreendem o benefício material e espiritual que traz ao povo a ação desse asceta, o exemplo de virtude e operosidade.

Surgem daí os primeiros conflitos. E na sua raiz não reside apenas a incompreensão de ministério tão benéfico, mas também a inveja, o ciúme e a maldade.

(...)

Não faz milagres nem os seus entusiastas admiradores lhe atribuem a prática de qualquer milagre. Não usurpa funções sacerdotais, nem de médicos, nem de farmacêuticos. Não é curandeiro. Não lhe chamam Bom Jesus. Não se inculca enviado de Deus. Não é profeta. Apenas prega a doutrina dos evangelhos e a da tradição da igreja católica romana. É pregador leigo como muitos da história da igreja e como hoje é até recomendado pela igreja.

Colocando-se ao lado do povo pobre e necessitado, espoliado e oprimido, Antônio Conselheiro levanta contra si certas autoridades civis e religiosas. Na linguagem de Euclides da Cunha, "eclipsando autoridades locais, o penitente errante e humilde monopolizava o mando". 

[extraído do livro do prof. Ataliba Nogueira: Antônio Conselheiro e Canudos] 
  

O contexto histórico e social

A república proclamada por um movimento de elites, despossuída de um caráter de envolvimento popular.

O contraste entre a vida no litoral (das grandes capitais, da capital da república nascente, do Brasil mais "desenvolvido") e no interior (o sertão, o Brasil às margens dos acontecimentos mais importantes).

O desconhecimento da realidade sertaneja pelo Brasil que escrevia e lia jornais, pelos núcleos urbanos mais importantes, pelas classes políticas apoiadoras da república, ainda como componente do contraste litoral versus interior.

O isolamento e a situação de abandono do sertanejo.

A realidade histórica de um povo sofrido, em ambiente hostil: o Hércules Quasímodo descrito por Euclides da Cunha. Um povo conhecedor da região e acostumado às suas características.

O equilíbrio político da região: a Bahia e sua adesão retardada ao movimento republicano. O coronelismo e a servidão. O crescimento vertiginoso de Belo Monte e seu relacionamento político e comercial com os detentores de poder locais: com os representantes da igreja, com os coronéis donos de terras, com as cidades do entorno.

Os sentimentos de aceitação e repulsa dos representantes do poder e da população sertaneja pelos conselheiristas. Desenvolvimento de relações de boa vizinhança por alguns entes políticos locais (coronéis, intendentes e sacerdotes), migração da população sertaneja para o povoado (que continuou mesmo após o início dos combates), manifestações de desagrado e pedido de respaldo militar entre entes federados. A ameaça dos jagunços e ações violentas / banditismo.

A fé do sertanejo e a esperança por dias melhores. A longa peregrinação do Conselheiro pelo sertão e a reputação construída. As prédigas do Conselheiro. A construção de uma cidade fraterna, com direito ao exercício da fé, à esperança da salvação e o acesso a recursos de subsistência (moradia e alimentação) fora do contexto da servidão nas propriedades dos coronéis.

O aporte ao arraial da população pobre sertaneja, de negros alforriados (os negros de 13 de maio) como idos a uma comunidade quilombola, de índios caimbé. A coexistência de grupos diversos, não só etnicamente mas de pessoas de origens variadas, do lavrador ao vaqueiro, do jagunço e do cangaceiro.

A chegada de tropas de linha constituídas por pessoal despreparado tática e tecnicamente para o combate na caatinga. A inadequação do material (armas e fardamento). A inexistência de rede de intendência e de suporte: a necessidade de depender dos recursos locais em uma região árida e hostil. A ausência de diagnóstico preciso do contexto local: desconhecia-se o porte da cidade, o número de jagunços, o armamento utilizado pelo inimigo, seu modus operandi. A insistência em não obter conhecimento com os erros dos antecedentes, levando à derrota três expedições militares.

A ausência de presença do estado como provedor de políticas públicas. A desconfiança despertada pelas tropas na população local, então primeira manifestação de presença do estado na região. A apropriação de casas, de recursos alimentares, de animais de carga pelas forças republicanas.

O negócio da guerra: coméricio de insumos para subsistência das tropas e dos jagunços, de animais de carga. Desvio de recursos financeiros e materiais (sim, isso não é novidade na história do Brasil). A insuficiência material ao cuidado das tropas. Precariedade dos serviços e das condições de saúde. A elevada mortalidade entre os feridos.

A manipulação política (do município à república) como objetivo das ações desenvolvidas no decorrer do conflito - levando ao sacrifício de recursos (incuindo-se, evidentemente, de vidas humanas).

Apenas algumas considerações para mostrar ao leitor a extensão das dificuldades em se compreender o contexto do momento histórico. Sigamos adiante, não menos confusos e perplexos que os brasileiros da época...

A época

Em 1828, nascimento de Antônio Vicente Mendes Maciel em Quixeramobim, no Ceará.

A abolição da escravatura em 1888.

Proclamação da República em 1889.

Batismo do arraial como Belo Monte em 1893.

Confronto com a primeira expedição militar, comandada pelo Tentente Pires Ferreira, em 21 de novembro de 1896, no vilarejo de Uauá.

Morte dos quatro derradeiros defensores de Belo Monte em 5 de outubro de 1897.

O local escolhido



(...) Canudos surgia com a feição média entre a de um acampamento de guerreiros e a de um vasto kraal africano. A ausência de ruas, as praças que, à parte a das igrejas, nada mais eram que o fundo comum dos quintais, e os casebres unidos, tornavam-no como vivenda única, amplíssima, estendida pelas colinas, e destinada a abrigar por pouco tempo o clã tumultuário de Antônio Conselheiro.

Sem a alvura reveladora das paredes caiadas e telhados encaliçados, a certa distancia era visível. Confundia-se com o próprio chão. Aparecia, de perto, de chofre, constrito numa volta do Vaza-Barrís, que o limitava do levante ao sul abarcando-o.

Emoldurava-o uma natureza morta: paisagens tristes; colinas nuas, uniformes, prolongando-se, ondeantes, até às serranias distantes, sem uma nesga de mato; rasgadas de lascas de talcoxisto, mal revestidas, em raros pontos, de acervos de bromélias, encimadas, noutros, pelos cactos esguios e solitários. O monte da Favela, ao sul, empolava-se mais alto, tendo no sopé, fronteiro à praça, alguns pés de quixabeiras, agrupados em horto selvagem. À meia encosta via-se solitária, em ruínas, a antiga casa da fazenda...

A uma banda, perto e dominante, um contraforte, o morro dos Pelados, termina de chofre em barranca a prumo sobre o rio e este, dali por diante progredindo numa inflexão forte para montante, abarca o povoado em leito escavado e fundo, como um fosso. Ali vão ter quebradas de bordas a pique, abertas pelas erosões intensas por onde, no inverno, rolam acachoando afluentes efêmeros tendo os nomes falsos de rios: o Mucuim, o Umburanas, e outro, que sucessos ulteriores denominariam da Providência.

Canudos, assim circunvalado quase todo pelo Vaza-Barris, embatia ao sul contra as vertentes da Favela e dominado no ocidente pelas lombas mais altas de flancos em escarpa em que se comprimia aquele nas enchentes, desatava-se para o levante segundo o expandir dos plainos ondulados. As montanhas longínquas fechavam-se em roda, formando, quase contínua, uma elipse de eixos dilatados. Feito postigos em baluarte desmedido, abriam-se, estreitas, as gargantas em que passavam os caminhos: o do Uauá, estrangulado entre os pendores fortes do Caipã; o de Jeremoabo, insinuando-se nos desfiladeiros de Cocorobó; o do Cambaio, em aclives, investindo com as vertentes do Calumbi; e o do Rosário.

Ora, por estas veredas, prendendo, no se ligarem a outras trilhas, o povoado nascente ao fundo dos sertões do Piauí, Ceará, Pernambuco e Sergipe — chegavam sucessivas caravanas de fiéis. Vinham de todos os pontos, carregando os haveres todos; e, transpostas as últimas voltas do caminho, quando divisavam o campanário humilde da antiga Capela, caíam genuflexos sobre o chão aspérrimo. Estava atingido o termo da romagem. Estavam salvos da pavorosa hecatombe, que vaticinavam as profecias do evangelizador. Pisavam, afinal, a terra da promissão — Canaã sagrada, que o Bom Jesus isolara do resto do mundo por uma cintura de serras.. .

Chegavam, estropiados da jornada longa, mas felizes. Acampavam à gandaia pelo alto dos cômoros. A noite acendiam-se as fogueiras nos pousos dos peregrinos relentados. Uma faixa fulgurante enlaçava o arraial; e, uníssonas, entrecruzavam-se, ressoando nos pousos e nas casas, as vozes da multidão penitente, na melopéia plangente dos benditos.

Ao clarear da manhã entregavam-se à azáfama da construção dos casebres. Estes, a princípio apinhando-se próximos à depressão em que se erigia a primitiva igreja, e descendo desnivelados ao viés das encostas breves até ao rio, começaram a salpintar, esparsos, o terreno rugado, mais longe.

Construções ligeiras, distantes do núcleo compacto da casaria, pareciam obedecer ao traçado de um plano de defesa. Sucediam-se escalonadas, ladeando os caminhos. Marginavam o de Jeremoabo, eretas numa e outra margem do Vaza-Barris, para jusante, até Trabubu e o ribeirão de Macambira. Pontilhavam o do Rosário, transpondo o rio e contornando a Favela. Espalhavam-se pelos cerros que se sucediam inúmeros seguindo o rumo de Uauá. Inscritas em cercas impenteráveis de gravatás, plantados na borda de um fosso envolvente, cada uma era, do mesmo passo, um lar e um reduto. Dispunham-se formando linhas irregulares de baluartes.

Porque a cidade selvagem, desde o princípio, tinha em torno, acompanhando-a no crescimento rápido, um círculo formidável de trincheiras cavadas em todos os pendores, enfiando todas as veredas, planos de fogo volvidos, rasantes com o chão, para todos os rumos. Veladas por touceiras inextricáveis de macambiras ou lascas de pedra, não se revelavam a distância. Vindo do levante, o viajor que as abeirasse, ao divisar, esparsas sobre os cerros, as choupanas exíguas à maneira de guaritas, acreditaria topar uma rancharia esparsa de vaqueiros inofensivos. Atingia, de repente, a casaria compacta, surpreso, como se caísse numa tocaia.

Para quem viesse do sul, porém, pelo Rosário ou Calumbi, galgado o alto da Favela, ou as ladeiras fortes que se derivam para o rio Sargento, o casario aparecia a um quilômetro, ao norte, esbatido num plano inferior, francamente exposto, de modo a se poder num lance único de vista aquilatar-lhe as condições de defesa.

Eram na aparência deploráveis. O arraial parecia disposto para o choque das cargas fulminantes, rolando impetuosas, com a força viva de uma queda, pelos aclives abruptos. O inimigo, livre de escaladas penosas, varejá-lo-ia em tiros mergulhantes. Podia assediá-lo todo, batendo todas as estradas, com uma bateria única.

Tinha, entretanto, condições táticas preexcelentes. Compreendera-as algum Vauban inculto...

Fechado ao sul pelo morro, descendo escancelado de gargantas até ao rio, fechavam-no, a oeste, uma muralha e um valo. De fato, infletindo naquele rumo, o Vaza-Barris, comprimido entre as últimas casas e as escarpas a pique dos morros sobranceiros, torcia para norte feito um cañon fundo. A sua curva forte rodeava, circunvalando-a, a depressão em que se erigia o povoado, que se trancava a leste pelas colinas, a oeste e norte pelas ladeiras das terras mais altas, que dali se entumescem até aos contrafortes extremos do Cambaio e do Caipã; e ao sul pela montanha.

Canudos era uma tapera dentro de uma furna. A praça das igrejas, rente ao rio, demarcava-lhe a área mais baixa. Dali, segundo um eixo orientado ao norte, se expandia alteando-se a, pouco e pouco, em plano inclinado breve, feito um valo largo, em declive. Lá dentro se apertavam os casebres, atulhando toda a baixada, subindo, mais esparsos, pelas encostas de leste, transbordando, afinal, nas exíguas vivendas que vimos salpitando, raras, o alto dos cerros minados de trincheiras. A grei revoltosa — como se vê — não se ilhava em uma eminência, assoberbando os horizontes, a cavaleiro dos assaltos. Entocara-se. Naquela região belíssima, em que as linhas de cumeadas se rebatem no plano alto dos tabuleiros, escolhera precisamente o trecho que recorda uma vala comum enorme...

[Trecho de Os Sertões - Euclides da Cunha]

Canudos não existe (mais)!

Essa é a minha opinião. Explico.

Primordialmente, Canudos era um entroncamento de caminhos no Sertão baiano, na margem esquerda do Vazabarris: as estradas de Geremoabo, Calumbi, Canabrava, Cambaio, Massacará, Rosário e Uauá, caminhos que levavam a Sergipe, Monte Santo, Cumbe (atual Euclides da Cunha) e às vilas ribeirinhas do Rio São Francisco. Por ali passavam tropeiros e mercadores.

E por que Canudos? Provavelmente por conta de uma planta que existe na região, os canudos-de-pito, utilizado pelos antigos habitantes como longas piteiras:



Eram terras de uma fazenda do Barão de Geremoabo, a assim chamada fazenda velha, cuja casa já estava em ruínas quando o Conselheiro escolheu o local para edificar o povoado.

Profundo conhecedor da região, soube escolher a dedo o local de fundação do arraial. Por ali havia passado já várias vezes, e os moradores cobravam a reforma da igreja local. A igreja, em ruínas, era ladeada por algumas dezenas de casas de adobe e palha.

Foram atendidos, e em 1893 inauguraram a Igreja de Santo Antônio, conhecida na guerra como Igreja Velha. Neste mesmo ano, o peregrino mudou-se para a vila e decidiu rebatizar seu nome para Belo Monte.

Então, a partir de 1893, já não existia mais Canudos como povoado. Já era Belo Monte. Vamos respeitar o nome de batismo do novo arraial que se edificava.

Arraial que cresceu até o posto de 2a maior população do estado da Bahia, perdendo apenas para a capital, Salvador. Estima-se que chegou a abrigar de 20 a 25 mil pessoas.

Entretanto, o estado republicano, os opositores do Conselheiro, os jornais da época e as documentações oficiais mantiveram a denominação de Canudos.

Terminada a guerra, depois de poucos anos, descendentes do conflito se estabeleceram novamente no mesmo local, à esquerda do Vazabarris. Acredito que pelas vantagens do local, à beira do rio e onde, mesmo em tempos de seca, havia aguadas e cavando-se cacimbas a água brotava. E me pergunto se também pela herança da liderança do Conselheiro ainda naquela gente, por se tratar do lugar escolhido pelo Santo (para muitos!) para a edificação da cidade fraternal de Belo Monte. Essa segunda cidade, chamou-se Canudos. Mas poderia ter sido chamada de Nova Belo Monte.

Em 1940 o então presidente Getúlio Vargas, em visita ao local, prometeu construir um açude na região. Em 1951 começas as obras do açude, que seriam terminadas pelo DNOCS (Departamento Nacional de Obras contra a Seca) à época do regime militar em 1967. Em 1969, estava cheio o açude, já com vazão a jusante.

A escolha da barragem em um ponto na Serra de Cocorobó alagou a região de Belo Monte. Onde então estava a Canudos da época. A população foi transferida para a cidade de Cocorobó, que depois de algum tempo passou a chamar-se Canudos, nome que, na minha opinião, impropriamente foi contaminando o nome dos núcleos urbanos estabelecidos nas proximidades da região do conflito.

Então hoje, onde está Canudos, foi e deveria ser Cocorobó.

E onde está Canudos Velho, não é Canudos Velho, pois Belo Monte foi completamente destruída pela campanha militar - que visou não deixar "pedra sobre pedra"; a nova cidade foi completamente alagada, e o que se chama de Canudos Velho na verdade é a vila do Alto Alegre, um vilarejo de pescadores.

Parece que Getúlio Vargas gostava de alagar e destruir lugares históricos. Pesquise no Google pelas Ruínas de São João Marcos.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

De Monte Santo a...

Sim, amigos, ontem fui me despedir da família do Seu Dedega e ficamos conversando até tardão.. hoje saí cedo de Monte Santo - era dia de feira, uma bagunça na praça, paus-de-arara, caminhões de mercadorias, muita gente logo cedo, bem movimentado.
Voltei a Euclides da Cunha e segui sentido norte até Bedengó, e de lá até... Canudos. Ou Cocorobó.
Aguardem próximos posts com informações daqui. Preciso organizar o material. Inclusive, deverei editar posts anteriores para melhorar e adicionar informações. Tem muita coisa para ser relatada!
Até lá. até lá. Até lá!

P.S.: informo que os posts anteiores já foram editados!

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Mais um dia em Monte Santo

Amigos, hoje ainda estou em Monte Santo. Tenho muito a escrever sobre tudo isso que estou vivendo, as coisas da viagem mais as ligações históricas. Creio que não conseguirei transmitir tudo aquilo que fervilha na minha cabeça sobre essas paragens.

Abaixo uma foto do famoso canhão Withworth 32, alcunhado pelos jagunços na época do conflito de Canudos de "A Matadeira", que hoje está exposto na praça principal de Canudos, Praça Monsenhor Berenguer, onde também há uma estátua do Conselheiro:


O canhão, com todo seu equipamento, pesava mais de 1500 Kg, e foi transportado de Queimadas (cidade mais próxima onde havia estação férrea) até o palco de guerra através de mais de 150 Km de estradas precárias, com o auxílio de um batalhão de sapadores que iam melhor adequando o caminho a tão penoso transporte. Para tanto, foi necessária a tração animal de 20 juntas de bois! Apenas um exemplo das dificuldades operacionais enfrentadas pelas tropas republicanas.



Como sabemos, Monte Santo foi ponto de passagem para a 3a Expedição do Exército brasileiro contra Belo Monte (a malfadada expedição do Coronel Moreira César, paulista de Pindamonhangaba) e foi a base operacional do exército durante a 4a Expedição do General Artur Oscar. No transcorrer do confronto, o ministro da Guerra da época, Marechal Bittencourt, em pessoa, tomou posto em Monte Santo gerenciando as operações logísticas, de intendência, disponibilizando recursos materiais para as tropas (munição de arma e de boca, animais, organizando os comboios) - operação que foi tão negligenciada nas expedições anteriores e que assegurou ao exército uma condição mínima para vencer esse duríssimo conflito:



E estabeleceu, pela única vez na história da República, um ministério fora da capital federal, despachando do prédio antigo da prefeitura. Como curiosidade, o visitante pode observar neste prédio a presença do Brasão da República em sua fachada:


Para Monte Santo foram transportados, dos Hospitais de Sangue do exército, instalados no palco da Guerra, em comboios, os soldados feridos. Escavações realizadas na cidade encontraram um grande número de ossadas de soldados, que feridos em Canudos vinham morrer em Monte Santo. Impossível calcular o custo humano do conflito, o número de mortos, para ambos os lados, jagunços e soldados. Comentarei mais sobre isso adiante.

Abaixo uma foto da estátua do Conselheiro com o início da subida do Caminho da Santa Cruz ao fundo:


Como podem ver pelas fotos, ontem choveu bastante pela manhã aqui - a Serra amanheceu completamente oculta pelas nuvens, que estavam carregadas e bastante baixas. Abaixo fotos de hoje, já com o tempo aberto:



Abaixo a foto da casa onde teria morado o Antônio Conselheiro no período em que ficou em Monte Santo:


Casa que fica na Rua das Flores, logradouro onde ficam diversas casinhas da época da guerra:


E abaixo fotos do Museu do Sertão, que havia comentado no post anterior:




Conforme já disse, falta muito a comentar. Espero conseguir organizar as idéias e dispor mais informações em breve.

Frase do dia - em um restaurante aqui da cidade, o garçom me pergunta: "- O senhor vai querer carne de boi, frango, porco, bode ou burro?".

O leitor toparia comer uma carne de burro? 

Amanhã seguiremos para o local do centro da tormenta desse terrível conflito. Mulheres, crianças, velhos, jagunços, cangaceiros e soldados no olho do furacão. Fiéis tementes a Deus, gente sertaneja, ex-escravos, índios Caimbé, paulistas, nordestinos, paraenses, gaúchos, gente de todo o Brasil. Não percam o que está por vir!

Até lá, até lá. Até lá!

quarta-feira, 11 de julho de 2012

A alegria que faz em Monte Santo


















"Das várzeas, da virada do Bom-Burití, avistavam uma corujeira, um arruado de casinhas leprando em ponta de serra. - "Apre, que deve de ser triste, lá..." - o Placidino dizendo. -"Eh, só é triste pelas pessôas. Não tendo ninguém num lugar, não faz alegria nem tristeza..." - Aristó desfalou." - A estória de Lélio e Lina - No Urubuquaquá, no Pinhém - Corpo de Baile - JGR

Hoje passei o dia com o Seu Dedega, morador natural de Monte Santo, cuja família tem raízes ancestrais nesta cidade. Conhecedor da história e da cultura do sertão, é artista plástico e escritor. Me apresentou a sua família, passeamos pela cidade, me mostrou o Museu do Sertão, que ele próprio criou, me contou várias histórias e estórias, me serviu licor de folha de Jirame, feito pela Dona Conceição, sua esposa. Levou-me para conhecer e conversar com o atual prefeito, Sr. Everaldo. Almocei junto com a família. 

Quando cheguei na cidade ela já me despertou uma agradável simpatia. As pessoas por aqui só aumentaram  essa simpatia. E o Seu Dedega, com tanta gentileza para com esse forasteiro desconhecido que agora escreve, só fez tornar o lugar mais lindo. Não tendo ninguém, Monte Santo não seria nem belo nem feio. Mas as pessoas daqui, e hoje o Seu Dedega, sua família, fazem da cidade um lugar (mais) bonito. Aqui fui, por todos, muito bem recebido.

E à tarde, um grande momento: a subida do caminho da Santa Cruz. Foram 2 Km subindo a Serra do Piquaraçá, pelo caminho de pedras com suas 25 capelas feito pelo Frei Apolônio de Todi. Lá em cima se chega a mais de 800 msnm., e a cidade fica a 470 msnm - então subi ao ponto mais elevado, onde fica a Capela da Santa Cruz, a quase 400 metros de desnível do começo do calvário. Nessa altura, a Serra domina para onde a vista alcança.

Lá em cima, uma visão de 360 graus do sertão. A cidade ao pé da serra, as estradas retas partindo em linha reta pelo sertão para Queimadas, Euclides da Cunha, Quijingue, Uauá (as duas últimas de terra). Mandacarus, flores, e um tamanduá de colete. E o pôr do sol, daqui de cima, maravilhoso.

Entrei na Igreja e lá fiquei em silêncio. Imagens de N. Sra. Soledade e de S. João Evangelista. Deitado, um Cristo, o Senhor do Sepulcro. Ao lado, a sala dos milagres, cheia de ex-votos. Acendi um maço de velas em intenção dos mortos. Pedi para que eu pudesse ficar sendo.

A energia desse lugar é indescritível. A capela e o caminho remontam a 1786. De lá para cá, quantas pessoas, sertanejas e não, subiram esse longo caminho pela serra com o coração em algo maior, com o pensamento no Altíssimo. Quantos ex-votos na capela, na sala dos milagres! Consta que o próprio Antônio Conselheiro reformou o caminho e algumas das capelas. Ladeando o caminho no início da subida, os muros feitos por supervisão do próprio - houve tempo, antes de se estabelecer em Canudos, no Arraial de Belo Monte, que ele próprio morou aqui em Monte Santo.

Fiquei lá em cima até anoitecer. As luzes dos povoados de acendendo em todas as direções.

Lá em cima se reza diferente. Se pensa diferente. Se sente diferente.

Agradeço a todos os irmãos, todos os peregrinos, que levaram sua presença e sua energia, sua fé, sua busca por algo maior, até esse lugar, esse morro de quartzito, essa Serra do Piquaraçá, desde os tempos de antes do Frei Apolônio, e que assim fizeram desse caminho um lugar especial. E ao Altíssimo por ter permitido que eu vivesse e compartilhasse essa história, e que pudesse deixar aqui também a energia da minha presença.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Do Coração Místico do Sertão Baiano


Pois bem, garupas, hoje chegamos a Monte Santo. Já olhou o mapa para ver onde fica?

De Jequié, 500 e poucos Km até essa linda cidadezinha do sertão baiano. Segui pela BR-116 até Feira de Santana (muito tráfego de caminhões por aqui - parecia que estava jogando um vídeo-game onde eu pilotava uma motoquinha de 200 cv e tinha que ficar ultrapassando infinitos caminhões...), depois mais BR-116 até Euclides da Cunha, e daí por uma estradinha vicinal por mais 38 Km até chegar aqui, aos pés da Serra de Piquaraçá, ou Pico do Araçá.

A BR-116, sem pedágio em Minas Gerais, a partir da divisa com a Bahia pedagiada até Feira de Santana. Mas em excelentes condições em toda a sua extensão.

Chegando, pelo alto da estrada, vê-se a cidade esparramada aos pés da serra. Muito bonita!

Aqui começou a minha história com esse sertão. Ao assistir Deus e o Diabo na terra do sol, do Glauber Rocha, ao ver as tomadas do alto da serra, com o Santo Sebastião pregando ao vento lá de cima, me perguntei onde é que existia esse lugar impressionante. O Glauber soube aproveitar magistralmente essa locação para as filmagens. E além disso, as referências ao sertão de Canudos no filme, me lembraram de uma antiga dívida, conforme veremos adiante.

Descobri que as filmagens tinham sido feitas em Monte Santo, e que o caminho visto no filme, pela serra, era o Caminho da Santa Cruz - caminho feito por iniciativa do Frei Apolônio de Todi no final do século XVIII.

Frente à seca da época, procurando uma localidade onde houvesse suprimento de água nessas paragens, entre o Itapicuru e o Vaza-Barris, região de rios temporários, onde estes, as cacimbas, aguadas e latadas nos períodos de seca não garantiam a disponibilidade de água para a sobrevivência dos homens e dos animais, o frei capuchinho chegou a este local que era referência desde os tempos remotos do desbravamento da região no século XVII a aventureiros que perseguiam pedras preciosas seguindo o roteiro fantasioso de Belchior Dias.

Pois então, no sopé do monte existia a única fonte de água perene dessa região em uma grande extensão de caatinga, por conta das precipitações que ocorrem pelo choque de massas de ar úmido provenientes do litoral com a serra, que se destaca no relevo por uma extensão de dezenas de léguas. Eis o fator atrativo primordial, digamos, à ocupação da região. Essa fonte até pouco tempo fornecia ainda água para a cidade de Monte Santo.

Diz a história que o frei, ao chegar ao pé do monte para abastecer-se de água, ficou impressionado com a semelhança da serra com o calvário e resolveu fazer um caminho pelo monte representando os passos da paixão, que a partir de então foi batizado de Monte Santo.

Hoje o caminho abriga 25 capelas: 21 passos e 4 capelas maiores. Conta a história ainda um milagre no momento em que o frei dirigia uma procissão no dia de todos os santos na qual deixava cruzes na trajetória do caminho: aplacou um tufão com suas orações. A imagem de Cristo crucificado carregada pelo frei durante o cortejo está hoje na Igreja Matriz da cidade. O milagre então atrai milhares de peregrinos, dando o frei andamento às obras do caminho: a substiruição das cruzes por passos (igrejas) de pedra e cal.

Até hoje no dia de todos os santos ocorre uma grande festividade em Monte Santo, atraindo peregrinos de todo o Brasil. Outro momento de peregrinação ao Calvário, como não poderia deixar de ser, é na Páscoa, em celebração à paixão, morte e ressurreição de Cristo.

Assim, seguiu-se ao fator primordial da ocupação - a fonte perene de água - o fator mágico e inexplicável, mas perceptível para quem aqui chega: que fez com que o frei edificasse tão formosa obra, e que emociona a quem percorre o calvário para lá de cima estar mais perto do céu, de Deus e de si mesmo, com o horizonte infinito de sertão para admirar por todos os lados, para onde quer que se olhe.

Pois aqui fez-se o Altar do Sertão, nesse caminho de pedras: creio não haver lugar que transmita tão bem como é a fé e a religiosidade do sertanejo. E à parte desse aspecto, um mistério, na forma de uma aura especial habita esse lugar.

E por ter falado em uma antiga dívida, ei-la: ler Os Sertões do Euclides da Cunha. Comecei e não consegui parar de ler - devorei o livro em 3 dias. Estava aceso o interesse pela história da Guerra no interior da Bahia, pelo mito do Conselheiro, e pelo povo sertanejo, denominado de Hércules Quasímodo pelo Euclides (O sertanejo é, antes de tudo, um forte.).

Para mim, a história, conforme disse, começou portanto aqui, em Monte Santo. Para o conselheiro, começou em Quixeramobim, no Ceará. Para o Euclides da Cunha, começou em São Paulo, da redação do jornal O Estado de São Paulo, de onde partiu como correspondente de guerra. Para os militares, começou no Brasil todo (poucos foram os estados que não enviaram tropas para o combate). Para o temível Coronel Moreira César, começou após a Revolução Federalista, em Santa Catarina, onde estava quando o renomado 7o Batalhão de Infantaria foi designado para dar cabo do arraial de Belo Monte. Para os sertanejos, começou em todos os cantos do sertão de onde todos vinham para ter com a comunidade fundada pelo Conselheiro. E para muitos milhares de seres terminou neste mesmo Sertão, lugar de vida-e-morte.

E agora estou eu no sertão de Os Sertões. Cheguei na cidade e já me senti um E.T. - chamando a atenção neste lugar simples com a minha moto e as minhas vestimentas de motociclista. Isso não me deixa bem, não queria chamar a atenção.

E agora eu me pergunto: o que será de mim, desse extra-terrestre nessas paragens? O que o sertão fará comigo? Será ele bom ou maligno para mim?

"O sertão não é malino nem caridoso, mano oh mano! - ele tira ou dá, agrada ou amarga, ao senhor, conforme o senhor mesmo." - velho do Tebá ao chefe cangaceiro Riobaldo - Grande sertão: veredas - JGR

Conforme eu mesmo? E agora? Então, estarei preparado? O que estará por vir em minha peregrinação?

Postando da Bahia


Esse post era para ter saído ontem. Cheguei a Jequié, mas impossível encontrar um computador disponível na cidade. Então, faço a atualização hoje, da cidade que vocês já já saberão.

Saí cedo de Governador Valadares e toquei direto pela BR-116. Novamente, estrada em excelentes condições de pavimentação até Jequié, na Bahia, região de transição da zona da mata com o semi-árido. Pouco mais de 700 Km rodados.

Seguindo de Gov. Valadares, depois de Teófilo Otoni, começa região de extensas serranias com belas paisagens: estrada através de vales flanqueados por maçiços rochosos, picos, e rios correndo pelos vales, com o curso de nascentes visíveis pelas enconstas. Muito agradável rodar por ali.

Passando o Jequitinhonha, depois da divisa, peguei chuva por 300 Km, até as proximidades de Jequié. A estrada sobe pela Serra de Periperi até uma cota de cerca de 1100 msnm - o céu estava bem nublado com nuvens baixas (veja na foto acima), e a minha impressão é que estava guiando dentro das nuvens: aquele misto de neblina com chuva constante, visibilidade ruim e um vento lateral forte e constante que me fez lembrar dos ventos da Patagônia. Com esse clima nesta altitude, bastante frio...

Pouco antes de Jequié um descenço suave com curvas de alta até cerca de 300 msnm. A chuva me acompanhando. Cheguei em Jequié trazendo a chuva atrás de mim.

Espero levar as chuvas comigo no restante da viagem. Ruim para rodar, mas sei que a seca lá em cima para o norte no sertão tá brava.

Assistiram o filme cujo link postei na mensagem anterior? Já sabe onde vamos parar amanhã?

Quem respondeu Monte Santo, acertou. Até lá, até lá. Até lá!

domingo, 8 de julho de 2012

Mensagem do dia: Na dúvida, não ultrapasse...


Amigos, hoje saí mais tarde de São Paulo do que pretendia (chovia muito na hora em que acordei - e retardei a partida). Os primeiros 400 Km foram de muito frio e chuva, dificultando o rendimento da viagem.

Pretendia ir por Belo Horizonte, mas acabei indo pela BR-116 mesmo. Entrando em Minas, parou de chover e esquentou, e a estrada proporcionou belas paisagens (não imaginava que fosse tão bonito assim esse trajeto: vales com rios e muito verde, sobe-e-desce de serras, e cidadezinhas margeando os rios com trechos encachoeirados). Muito legal.

A estrada está muito boa a pavimentação na grande maioria do trajeto. A Haya foi bem.

Acabou que, por ter saído mais tarde e por ter pego muita chuva, e com o pneu traseiro novo, fui bem na manha - comprometendo assim o rendimento global do dia. Na dúvida, não ultrapasse: parei por Governador Valadares mesmo (quase 1000 Km rodados).

Amanhã tentarei chegar a algum ponto entre Vitória da Conquista e Feira de Santana. Que pode ser Jequié.

Por enquanto, só pontos de passagem. Quer saber qual o ponto de interesse onde pretendemos chegar inicialmente? Assistam a esse filme:

http://www.youtube.com/watch?v=AJpPdF0ipQA

Aí está a dica. Até lá, até lá. Até lá!

sábado, 7 de julho de 2012

Um furo antes da partida


A partida ficou para amanhã. Iremos a algum ponto, provavelmente, a depender do sangue nos óio e das condições de rodagem, entre Teófilo Otoni e Vitória da Conquista. Chegaremos à região de interesse, estipulo, em 2 ou 3 dias.

Hoje, arrumando a moto para a viagem, uma surpresa: pneu traseiro furado pelo parafuso da foto. Mais um objeto furante de pneu para a coleção. Agora a Haya tá de pneu traseiro novo.

Amanhã, algum lugar entre T. O. e V. C.. Até lá, até lá. Até lá!

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Agora vem o mistério

"There are so many little dyings that it doesn´t matter which of them is death" - Kenneth Patchen

"What we have done for ourselves alone die with us; what we have done for others and the world remains and is immortal." - Albert Pike

Carece um esclarecimento ao leitor: não interessa o meu  nome, que pode ou não ser Antonio, e que com  certeza não sou Conselheiro. Aproveito-me do nome do grande peregrino cearense para manter meu anonimato e fazer referência ao que será aqui narrado a partir de agora.

Sigo a trajetória do testemunho desse Blog de acordo com o que havia conversado longamente com meu amigo Marcos na última vez em que conversamos. Ele me pediu que quando eu fizesse essa viagem, postasse em seu Blog.

Assim, atendo ao seu pedido. O leitor, pode fazer de conta que eu sou ele, mas considero importante manter o meu anonimato para preservar os objetivos do querido finado amigo sem despersonalizar o seu testemunho, e nem desviar o foco para assuntos que digam respeito somente a mim.

Convido aos antigos garupas do Marcos e a quem quiser para que me acompanhem nessa jornada. A partir de agora, eu também sou como ele. Vamos ao encontro de um momento terrível da História do povo brasileiro.Vamos celebrar uma memória que não pode ser perdida:

"A memória é a mente. Por isso, os desmemoriados são denominados: os sem mentes. A alma vivifica o corpo; o ânimo exerce a vontade; quando se recorda, é memória; quando julga, é razão; quando espira, é espírito; quando sente, é sentido." - Isidoro de Sevilha (560-636 A.D.), Etimologias, XI, 1,13

Sinto-me terrivelmente angustiado com o início desse projeto. Porque ainda não sei ao sei ao certo o que vou encontrar. Porque o saber o que vou encontrar será o viajar em si. Porque estou com medo!

"Captain, my religious beliefs teach me to feel as safe in battle as in bed. God has fixed the time for my death. I do not concern myself about that, but to be always ready, no matter when it will overtake me. Captain, that is the way all men should live, and then all men would be equally brave." - Thomas J Jackson, General Confederado, falando ao Capitão John D. Imboden em 24 de julho de 1861

Coragem para a luta. A partida se aproxima. Até lá, até lá. Até lá!