sábado, 25 de dezembro de 2010

Mais do Guimarães


"Quando escrevo, repito o que já vivi antes.
E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente.
Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo
vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser
um crocodilo porque amo os grandes rios,
pois são profundos como a alma de um homem.
Na superfície são muito vivazes e claros,
mas nas profundezas são tranqüilos e escuros
como o sofrimento dos homens." - J. G. R.

Conhecer Guimarães Rosa, através deste outro léxico, que ele próprio emprega para contar-se em palavras, abre um universo no qual reparo minha imensa ignorância, e aguço minha curiosidade para ler e humildemente aprender. Meu guia nesta viagem tem sido meu marido, e com este propósito me levou a Cordisburgo, a cidade natal do Guimarães, pequenina, cravada nos morros de Minas.
Já conhecia Cordisburgo, da infância, da Gruta do Maquiné. Mas não a conhecia pelo olhar do escritor, do poeta. A gruta visitamos logo pela manhã, com seus sete salões amplos, já transcritos em nosso blog nas belas palavras do Guimarães, na primeira viagem do Marcos ao sertão: 


Depois fomos ao Museu Casa do Guimarães, erguido na casa onde viveu com seus pais no início do século passado. Bonito, bem cuidado, rico em história e leitura. A visita guiada pelo contador mirim é emocionante. Ouvimos a passagem do Grande Sertão em que Diadorim fala que seu pássaro preferido é o Manuelzinho-da-crôa. Lindo demais, lágrimas nos olhos de nós três: Nos meus e do Marcos, de emoção, nos do Vítor, quando foi ao colo da contadora mirim e se afastou da mãe...


Foi isso. Foram estes 6 dias de visita rápida a um mundo diferente escondido nas serras e nos gerais. É preciso mais tempo para absorver mais da nossa terra e da nossa gente, tão diferente da gente mesmo, mas tão rica e tão cheia de lições. Até a próxima! Até lá, até lá. Até lá!!!

Dia 22/12: Mais pirão, e as piranhas...

Onde antes era só cerrado, hoje dominam os eucalipais: árvore única, avessa ao diverso, ao ex-biodiverso da fauna e flora locais, enfileiradas em um exército que resseca, invade, homogeniza. São milhas de sertão assim transformados para mover a máquina do mundo moderno. Testemunhar tão de perto traz culpa, a eterna culpa que não nos deixa desde que somos seres transformadores da natureza.
Passeamos pela BR040 de Pirapora à Três Marias: na faixa estreita que envolve a rodovia, cerrado virgem, guardado pelo governo federal, relembrando o que foi ontem. Fora isso é só eucalipto sem ter mais fim. Cruzamos o Rio "Abaeté", primeiro afluente do Chico depois da represa de Três Marias. Paramos para abastecer nossos corpos com surubin no Rei do Peixe, embaixo da ponte que passa o Rio São Francisco naquele ponto. Mais pirão de peixe pro Vitinho. E dali à Praia Mar de Minas, na represa. Quase mergulhamos na água convidativa, morna e cristalina, com nosso filhinho nos braços. Em tempo, fomos alertados da existência de piranhas naquele pequeno trechinho de "mar"...
O menino turbinado com pirão, a salvo das piranhas, ganhou uma ducha para refrescar e seguiu viagem com seus pais...

Próxima parada: Andrequicé - distrito de Três Marias onde viveu o vaqueiro Manuelzão, eternizado na obra de Guimarães Rosa. Lá um pequeno museu em sua memória na casa em que viveu: belo e simples, mas simples demais. Mesmo sendo a simplicidade o que sua vida tem mais a nos ensinar, nota-se outra vez a lamentável falta de interesse na conservação do patrimônio histórico de Minas Gerais. 

Havíamos desviado 20 km da BR para visitar Andrequicé, fomos e voltamos por entre eucaliptos da Gerdau, que invadiram e secaram o riacho de Andrequicé, conforme nos contou uma habitante local.
Dali, tomamos o rumo de Cordisburgo, pousada das flores, restaurante Sarapalha, vencedor no quisito "sinistro" da viagem, repouso nas flores, noite bem dormida e descansada. 


terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Pirapora, pirão de peixe

20/12/2010







A estrada desceu a Serra do Espinhaço até Curvelo. De lá seguiu rumo norte em direção a Pirapora. Seriam 306km desde Diamantina, mas aumentamos um pouco pra ver o Morro da Garça e a ruína da igreja com uma gameleira na Barra do Guaicuí - foz do Rio das Velhas no São Francisco. Por um capricho da natureza uma árvore imensa nasceu nas ruínas de uma igreja cuja construção foi iniciada em meados dos 1700 e nunca foi terminda. Dali voltamos para Pirapora, passando por uma casa de venda de cachaça mineira. Pirapora é simples. Banhada pelo Rio Chico, tem uma ponte construída no início do século XX - Ponte Marechal Hermes - que a liga a Buritizeiro. Na ponte só passam motos, bicicletas e pedestres, sinistra! Bonita! Pitoresca! Comemos Surubin na beira do São Francisco, maravilhoso! O Vítor comeu pirão de peixe, e gostou! Comeu muito, como faz com tudo que gosta, ficou a mil, não queria dormir - Pirão com adrenalina! Pirão com plutônio! Pirão atômico!!! Uma noite muito quente, de um calor intenso, constante, sem brisa. Depois de muito dormimos, no Hotel Canoeiros. Amanhecemos no calor e piscina nas margens do rio. Doces da região no mercado - pequi, buriti. Mais Surubin!! Um passeio para conhecer a cidade do lado de lá - Buritizeiro - menorzinha, com seus Buritis! Mais piscina! Descanso. Hoje o Vítor quer dormir!! Boa noite! Amanhã Cordisburgo.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Revisitando o Sertão de Minas

Em junho deste ano cá esteve o Marcos de V-Strom, conhecendo as entranhas do sertão de Guimarães Rosa, procurando sentir o que havia lido e relido no "Grande Sertão: Veredas", livro que tanto ama e que eu tanto tento decifrar, mas ainda rastejo nas primeiras páginas, buscando serenidade para ouvir o Riobaldo contar...
Agora cá estamos, Marcos, Vítor e eu. Ele quer me levar por onde passou, me mostrar o Guararavacã do Guaicuí, o Rio Chico em Pirapora e os Buritizais.
Passamos por Belo Horizonte para entrar no clima de Minas Gerais, convivendo 3 dias com minha linda família mineira. 


De lá saímos ontem de manhã pela BR040, depois de Sete Lagoas tomamos o rumo de Curvelo, e pouco antes ficamos 2h parados numa obra da pista. Muita gente mal educada ocupando as pistas. Muito calor e espera. O Vítor comeu sua papinha e reclamou um pouco do calor, mas logo em um posto ele descansou, retomamos a estrada e chegamos em Diamantina. Muita adrenalina para o pequeno bebê, em sua primeira peregrinação, que obviamente, vem sendo feita de carro... Um Toyota Corolla prata 2009.
Aqui, poucas opções, além do "Beber, dormir e rezar" citado anteriormente. Duas noites numa pousada boa demais e amanhã, Pirapora. E, para relembrar os tempos da Vermelhinha nas rutas do sul, parafrasenado nosso querido José Mojica Marins: "Até lá, Até lá. Até la!"

Dormir, beber e rezar




Domingo em Diamantina, Pousada Pouso da Chica. Terra da negra liberta que queria ter o mar. Pecadora dos 7 pecados capitais, caridosa e temente a Deus. Amante acima de tudo de seu marido João Fernandes. Terra de Chica da Silva, cuja casa foi o único ponto turístico aberto aos turistas neste domingo de dezembro. Chica que ordenou a construção da Igreja Nossa Senhora do Carmo, e hoje está enterrada na Igreja de São Francisco, onde a tarde a missa canta e invade as ruas silenciosas da cidadezinha, onde se vê o povo do lugar. REZAR.
Terra do nosso ex-presidente Juscelino Kubitschek, hoje estátua de praça que leva seu nome. Praça pacata por onde passeamos com nosso filho no colo, atingimos o centrinho da cidade, o Café "A Baiuca", onde os mineiros bebem. Almoçamos no restautrante "A Casa de Antônio" ao som da viola dos moradores que cantavam "...ter uma casinha branca de varanda, um quintal e uma janela, para ver o sol nascer...", com vozes embriagadas e desafinadas. BEBER.
Toca o sino às 18h. O Vítor e o Marcos rangem a rede relaxada na varanda do nosso chalé. O clima é ameno demais, vejo uma jaboticabeira, uma pitangueira, espinafres e hortelãs pelo chão, e O Limoeiro. "Meu limão, meu limoeiro, meu pé de jacarandá!"

Cantiga de ninar o bebê, que aprofundou no seu sono no colo do pai, no balanço da rede, no marasmo gostoso do fim de tarde, a descansar. DORMIR.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

E a coragem?

"Coragem é a resistência ao medo, domínio do medo, e não a ausência do medo." - Mark Twain