segunda-feira, 12 de julho de 2010

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segunda-feira, 5 de julho de 2010

Ajudem-me: pedido de IDÉIAS


Essa viagem ao sertão rendeu muitos frutos, sem dúvida.

Espero que tenha incentivado alguns a ler Guimarães Rosa: leitura que com certeza ajuda muito mais do que qualquer livro de Auto-Ajuda. E incentivado, é claro, as pessoas a viajar.

Agora pensei outra coisa, muito importante, mas não sei como operacioná-la - explico: poderia minha viagem chamar a atenção para a importância em se preservar lugares como a Matriz de Itacambira?

Quem sabe levantar a bola para um patrocínio nesse sentido? Chamar a atenção para esse patrimônio histórico e cultural e levar essa idéia até alguma empresa ou grupo sensível e interessado nesse tipo de ajuda? (- em realizar um projeto de restauração e efetivá-lo)

Se você, leitor, puder me ajudar com alguma sugestão, por favor deixe sua mensagem aqui. Idéias são bem-vindas.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

De volta prá casa...

30 de junho - quarta-feira

Vou ser breve na parte estradeira:
Não estava a fim de voltar pelo caminho arroz-feijão (BR-040 em direção a 7 Lagoas, BH, Fernão Dias até São Paulo) que daria uns 700 Km. Optei por desviar antes de 7 Lagoas da BR-040 indo por Inhaúma, Cachoeira da Prata, Pequi, Pará de Minas até Itaúna na MG-050, através de rodovias vicinais (muito legal rodar por essas vicinais, muitas curvas, paisagem agradável, passagens por túneis vegetais). MG-050: rodovia pedagiada, em condições regulares (por ser pedagiada, poderia / deveria ser muito melhor - mas é apenas razoável). De Itaúna na MG-050 a Divinópolis, Pimhui, Capitólio, Passos, com direito ao visual incrível da represa de Furnas que se pode ter da estrada. Depois de Passos, São Sebastião do Paraíso e aí ao Sul pela BR-491, ruim (buracos) até a divisa de Minas com São Paulo, antes de Mococa. Entrando em São Paulo, pavimentação excepcional e pista dupla de Mococa a Campinas pela SP-340. Chegando em Campinas, Anhanguera e depois rod. Bandeirantes, até São Paulo e depois até a porta de casa.

O que era para ser 700 Km virou 850 Km, mas valeu muito a pena. Cumpri o trecho com calma em 10 horas. E, desde a partida, chegando em casa, completara 4 mil Km rodados.

Muito bom chegar em casa e encontrar o Vítor e a Antonela. Re-encontrar a família é bom de não ter tamanho nem como (d)escrever!

A Expedição pelo Sertão valeu muito a pena. Vi muita paisagem bonita, conversei com muito sertanejo, geralense, gente simples, pobre e acolhedora. Desconfiados mas dispostos a mostrar um pouco de si mesmos após alguma conversa.

Ah, as serras, os gerais, os buritizais, as veredas, o velho Chico, a Matriz de Itacambira, o calor insuportável do Liso do Sussuarão, a D. Coló, o Seu Norberto, os amigos de Montes Claros, o seu Walduk, os carrapatos, o guia perdido de Itacambira, e tantos outros momentos, cada componente deu um gostinho especial a essa viagem. Coisas que não se compram em nenhum pacote turístico.

Fiquei triste com o desmatamento do cerrado, com o avanço dos eucalipais, com a degradação e o desaparecimento das veredas. Com a falta de cuidado com referências histórico-culturais (a dificuldade na recuperação da Matriz de Itacambira, a capelinha de Manuelzão destruída, o abandono da Igreja da Barra do Guaicuí). Com a falta de estudo de jovens que nem sabiam me dizer quem foi Guimarães Rosa, desconhecedores da sua própria riqueza.

Recomendo que leiam esse texto, de Pedro Fonseca: http://blog.controversia.com.br/2007/08/23/por-conta-do-santo-se-beija-as-pedras/

Mas, apesar dos pesares, é só procurar, que o sertão está lá! E vale muito a pena.

Evidentemente, essa viagem não tratou simplesmente de acumular lugares dados aos fatos da obra Roseana. Acontece que, para a riqueza do conteúdo da obra de Guimarães Rosa, por todos os conhecimentos filosóficos contidos na sequência de cada parágrafo, peregrinar ao sertão trouxe a oportunidade de refletir sobre tudo o que já tinha lido, e de olhar com os próprios olhos toda a beleza poética das paisagens com suas plantas, bichos e gentes que serviram de inspiração a esse escritor único.

E agora depois da viagem descobri esse texto, publicado em um artigo entitulado Dossiê Guimarães Rosa, na revista Estudos Avançados (20(58), 2006):

"O que acontece nesses lugares que atrai cada vez mais pessoas de fora? Certamente são forasteiros que têm o sertão dentro de si, que são sertanejos como Guimarães Rosa definiu para o entrevistador Günter Lorenz. É gente que tem saudades do que nunca viveu e uma sede de um mundo primordial não corrompido, onde ainda há o que fazer."

Bom, é isso. Agradeço aos garupas que me fizeram companhia que poderia ter sido uma jornada deveras solitária, dessa vez sem a presença física da Antonela, que com certeza tanto gostaria de ter vindo. Poderíamos ainda ter visitado vários outros lugares que havia elencado (Chapada Gaúcha para visitar o Parque Nacional Grande Sertão: veredas, Paredão de Minas - onde tanta coisa importante aconteceu na vida de Riobaldo e Diadorim, Alto Urucúia - lá onde tanto boi berra e onde vaca pare na tempestade, onde trovão retumba que é capaz até de fazer o senhor chorar), mas por uma série de motivos esses destinos tiveram que ficar para uma próxima etapa, ou melhor dizendo, uma próxima TRAVESSIA!

Até lá, até lá. Até lá!

"O diabo não há! É o que eu digo, se for... Existe é homem humano. Travessia." - Jagunço Riobaldo - Grande Sertão: Veredas - João Guimarães Rosa


Cordisburgo - cidade natal de Guimarães Rosa




29 de junho - terça-feira

De Três Marias a Cordisburgo um pulinho - cerca de 200 Km: 180 pela BR-040 e mais 20 da estrada que leva até a cidade (burgo) do coração (cordis).
Lá Guimarães Rosa nasceu e viveu até os 9 anos de idade incompletos. Lá seu pai era dono de uma venda, uma loja de "secos e molhados" - e lá manteve desde cedo contato com o universo sertanejo. Basta ler o seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras para se saber a importância de Cordisburgo em sua vida, e o afeto que mantinha por essa pequena cidade.
Lá pertinho (5 km, bem sinalizado) fica a gruta do Maquiné, com seus 7 grandes salões:

"E mais do que tudo, a Gruta do Maquiné - tão inesperada de grande, com seus sete salões encobertos, diversos, seus enfeites de tantas cores e tantos formatos de sonho, rebrilhando risos de luz - ali dentro a gente se esquecia numa admiração esquisita, mais forte que o juízo de cada um, com mais glória resplandecente do que uma festa, do que uma igreja" - trecho de O recado do morro - no Urubuquaquá, no Pinhém

Cedinho fui visitar a gruta. Depois do texto acima, não preciso dizer como ela é bonita. Vale a pena ser visitada. Salões enormes com grandes formações de deixar a gente boquiaberto.

Depois do almoço, de mais uma comidinha mineira básica (um feijãozinho tropeiro, um torresminho, que delícia!) - fui visitar o museu Casa de Guimarães Rosa.

Fica na casa da família, onde morou e onde o pai tinha a venda. A casa está muito bem conservada, conta com um pequeno acervo do escritor, com coisas simples como uma coleção de suas marcantes gravatas borboletas mas com peças de estimado valor, como a espada e bainha da posse na academia de letras (o fardão ele foi sepultado com ele - trata-se de uma tradição da academia - ele morreu três dias! (isso mesmo) após a posse), a máquina de escrever onde ele escreveu Grande Sertão: Veredas, uma pequena biografia da sua vida com fotos. A venda do pai, que ficava na parte da frente da casa, bem conservada, dá prá imaginar o menino Joãozito escondido embaixo do balcão escutando as histórias dos clientes, gente do sertão.

Agora, o principal patrimônio do museu eu não falei, são os meninos contadores de história do projeto Miguilim. Eles acompanham a visita ao museu, comentam sobre o acervo e depois contam histórias: para o meu grupo, um dos contadores recitou um trecho da história de Miguilim e outro contador recitou um texto do Guimarães falando da sua infância. Emocionante - e muito bom ver como os meminos conhecem e se interessam pela vida e pela obra do Guimarães Rosa. Fiquei muito feliz em testemunhar isso. Muito me entristecia ver que muitas pessoas por esses meus dias de viagem, nos diversos locais, sequer sabiam quem foi Guimarães Rosa.

Em frente ao museu, a estação de trem de Cordisburgo. Lá onde Sorôco embarcou sua filha e sua mãe para o hospício em Barbacena (de Sorôco, sua mãe, sua filha - conto de Primeiras Estórias).

Esse foi o último programa da Expedição ao Sertão. Assim como na viagem de 2007 a Ushuaia, em que cumprimos o último destino turístico em Alta Gracia, na Argentina, região serrana de Córdoba, no museu Casa del Che - museu feito na casa onde Ernesto Che Guevara passou a infância - agora termino esta expedição visitando o Museu de Guimarães Rosa. E assim como foi emocionante demais andar pelos corredores onde andou Che Guevara, no final da viagem que foi um tributo à memória e ao mito dos ideais de Che Guevara, hoje também foi especialmente emocionante conhecer o museu Casa de Guimarães Rosa e os meninos contadores de História do Projeto Miguilim - nessa expedição que foi um tributo à memória de João Guimarães Rosa e do vaqueiro Manuelzão, do mito de Riobaldo e Reinaldo, ou Diadorim, ou Maria Deodorina da Fé Bettancourt Marins, ao sertão que é do tamanho do mundo.

"Sertão é sem lugar. Sertão é o sozinho. Sertão é dentro da gente."

"O Sertão está em toda a parte. O Sertão é do tamanho do mundo"

"Sertão, - se diz -, o senhor querendo procurar, nunca não encontra. De repente, por si, quando a gente não espera, o sertão vem."

Com o coração apertado começo a despedida desses lugares pelos quais peregrinei nos últimos 10 dias, buscando referenciar meus passos na vida e na obra de Guimarães Rosa.

Amanhã tocar o pau prá São Paulo. As saudades me puxam prá lá.