sábado, 6 de fevereiro de 2016

Cordisburgo com crianças

Vamos? Viajar de carro para o calor, conhecer a cidade da caverna!!!! Vamos? Meus meninos toparam e foram campeões! Uma única vez nas 10h de viagem ouvi: "Mamãe, tá chegando?" Faltavam uns 200km, disse que sim! 16h chegamos em Cordisburgo, tendo saído de São Paulo 6:30h, na sexta-feira, pré-carnaval.

Aqui ficamos na pousada das flores, uma casa de interior adaptada para receber hóspedes, com muita simplicidade, mas carinho e flores. Vítor descobriu o prazer de estourar sementinhas no jardim! Coisas que tanto fiz na minha infância e que, naquele tempo, eram tão triviais.

Saímos para um passeio a pé de fim de tarde, visitamos a estação de trem. Miguel subiu na escada de uma locomotiva, todo alpinista, depois se assustou com carrapichos que grudaram em sua bermuda... Vítor brincou em um trocador de trilhos de verdade. Subiram em vagões, correram na antiga estaçãozinha, viram um trem de carga buzinando e cruzando a cidadela. Emoções da "Ilha de Sodor".



E hoje fomos à Gruta do Maquiné, à "caverna"!!! Caminhamos por seus salões e eles puderam vivenciar uma nova sensação. Tudo é tão novo, tão legal para as crianças, que tudo se torna tão legal de novo para nós, adultos. E saímos em busca dos calangos, o Vítor foi o chefe da expedição. Encontramos 4, nosso objetivo eram 5 calangos, mas não deu - teremos que voltar!! No almoço, feijão tropeiro - bom demais!





Ainda em Cordisburgo, a excitação agora é com a obra de Stamar Jr. Um escultor que fez um zoológico de pedra (na verdade, animais feitos com uma estrutura de ferro envolta em cimento, como ele próprio nos explicou). A vivência é de subir na tromba de um elefante, colocar o braço dentro da boca de um tigre dente de sabre e pasmar frente a uma preguiça ou um tatu, gigantes e pré-históricos! Depois, ainda no roteiro "obras de Stamar Jr.", fomos à casa Elefante! Sim, uma casa em forma de eletante fêmeo! Os meninos querem morar lá!!! O proprietário afirmou que, depois de pronto, poderia alugar para nós... Era só o que me faltava, morar dentro de um elefante em Cordisburgo!



O último ponto turístico, o Museu Guimarães Rosa, que eu tanto queria ver e ouvir as histórias dos contadores mirins, estava fechado... Vimos somente o Portal do Grande Sertão, na Praça Miguilim (o Miguelzinho do Guimarães), com sua escultura dos vaqueiros do sertão.

Agora, de volta à pousada, eles brincam de bombeiros! Tudo já pegou fogo ao nosso redor, e eles estão suados e vermelhos de tanto correr!! Irmão é tudo de bom. E eu não me canso de olhar....

Entretanto, esse foi só um ponto intermediário em direção a um destino maior, destino fatal. Um longe que quase ninguém sabe, ninguém viu. Um lugar onde tantas coisas terríveis aconteceram, na margem esquerda do São Francisco, em direção ao Rio Paracatu. Vamos fechar um ciclo que o Marcos não conseguiu fechar... Até lá, até lá. Até lá!

"Assim, feito no Paredão. Mas a água só é limpa é nas
cabeceiras. O mal ou o bem, estão é em quem faz; não é no
efeito que dão. O senhor ouvindo seguinte, me entende. O
Paredão existe lá. Senhor vá, senhor veja. É um arraial. Hoje
ninguém mora mais. As casas vazias. Tem até sobrado. Deu
capim no telhado da igreja, a gente escuta a qualquer entrar o
borbolo rasgado dos morcegos. Bicho que guarda muitos frios
no corpo. Boi vem do campo, se esfrega naquelas paredes.
Deitam. Malham. De noitinha, os morcegos pegam a recobrir os
bois com lencinhos pretos. Rendas pretas defunteiras. Quando se
dá um tiro, os cachorros latem, forte tempo. Em toda a parte é
desse jeito. Mas aqueles cachorros hoje são do mato, têm de
caçar seu de-comer. Cachorros que já lamberam muito sangue.
Mesmo, o espaço é tão calado, que ali passa o sussurro de meianoite
às nove horas. Escutei um barulho. Tocha de carnaúba
estava alumiando. Não tinha ninguém restado. Só vi um papagaio
manso falante, que esbagaçava com o bico algum trem. Esse, vez
em quando, para dormir ali voltava? E eu não revi Diadorim.
Aquele arraial tem um arruado só: é a rua da guerra... O demônio
na rua, no meio do redemunho... O senhor não me pergunte nada.
Coisas dessas não se perguntam bem."
Jagunço Riobaldo - Grande Sertão: veredas - João Guimarães Rosa

2 comentários:

  1. Antonela.. que coisa gostosa ver os valores que estás ensinando pra seus pequenos.. viajar e sonhar são o que nos mantém vivos e felizes... escreves muito bem po... beijão a todos...

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  2. As fotos são mágicas... lindas.. viajei com vcs... beijão e obrigada por compartilhar

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