quinta-feira, 1 de julho de 2010

De volta prá casa...

30 de junho - quarta-feira

Vou ser breve na parte estradeira:
Não estava a fim de voltar pelo caminho arroz-feijão (BR-040 em direção a 7 Lagoas, BH, Fernão Dias até São Paulo) que daria uns 700 Km. Optei por desviar antes de 7 Lagoas da BR-040 indo por Inhaúma, Cachoeira da Prata, Pequi, Pará de Minas até Itaúna na MG-050, através de rodovias vicinais (muito legal rodar por essas vicinais, muitas curvas, paisagem agradável, passagens por túneis vegetais). MG-050: rodovia pedagiada, em condições regulares (por ser pedagiada, poderia / deveria ser muito melhor - mas é apenas razoável). De Itaúna na MG-050 a Divinópolis, Pimhui, Capitólio, Passos, com direito ao visual incrível da represa de Furnas que se pode ter da estrada. Depois de Passos, São Sebastião do Paraíso e aí ao Sul pela BR-491, ruim (buracos) até a divisa de Minas com São Paulo, antes de Mococa. Entrando em São Paulo, pavimentação excepcional e pista dupla de Mococa a Campinas pela SP-340. Chegando em Campinas, Anhanguera e depois rod. Bandeirantes, até São Paulo e depois até a porta de casa.

O que era para ser 700 Km virou 850 Km, mas valeu muito a pena. Cumpri o trecho com calma em 10 horas. E, desde a partida, chegando em casa, completara 4 mil Km rodados.

Muito bom chegar em casa e encontrar o Vítor e a Antonela. Re-encontrar a família é bom de não ter tamanho nem como (d)escrever!

A Expedição pelo Sertão valeu muito a pena. Vi muita paisagem bonita, conversei com muito sertanejo, geralense, gente simples, pobre e acolhedora. Desconfiados mas dispostos a mostrar um pouco de si mesmos após alguma conversa.

Ah, as serras, os gerais, os buritizais, as veredas, o velho Chico, a Matriz de Itacambira, o calor insuportável do Liso do Sussuarão, a D. Coló, o Seu Norberto, os amigos de Montes Claros, o seu Walduk, os carrapatos, o guia perdido de Itacambira, e tantos outros momentos, cada componente deu um gostinho especial a essa viagem. Coisas que não se compram em nenhum pacote turístico.

Fiquei triste com o desmatamento do cerrado, com o avanço dos eucalipais, com a degradação e o desaparecimento das veredas. Com a falta de cuidado com referências histórico-culturais (a dificuldade na recuperação da Matriz de Itacambira, a capelinha de Manuelzão destruída, o abandono da Igreja da Barra do Guaicuí). Com a falta de estudo de jovens que nem sabiam me dizer quem foi Guimarães Rosa, desconhecedores da sua própria riqueza.

Recomendo que leiam esse texto, de Pedro Fonseca: http://blog.controversia.com.br/2007/08/23/por-conta-do-santo-se-beija-as-pedras/

Mas, apesar dos pesares, é só procurar, que o sertão está lá! E vale muito a pena.

Evidentemente, essa viagem não tratou simplesmente de acumular lugares dados aos fatos da obra Roseana. Acontece que, para a riqueza do conteúdo da obra de Guimarães Rosa, por todos os conhecimentos filosóficos contidos na sequência de cada parágrafo, peregrinar ao sertão trouxe a oportunidade de refletir sobre tudo o que já tinha lido, e de olhar com os próprios olhos toda a beleza poética das paisagens com suas plantas, bichos e gentes que serviram de inspiração a esse escritor único.

E agora depois da viagem descobri esse texto, publicado em um artigo entitulado Dossiê Guimarães Rosa, na revista Estudos Avançados (20(58), 2006):

"O que acontece nesses lugares que atrai cada vez mais pessoas de fora? Certamente são forasteiros que têm o sertão dentro de si, que são sertanejos como Guimarães Rosa definiu para o entrevistador Günter Lorenz. É gente que tem saudades do que nunca viveu e uma sede de um mundo primordial não corrompido, onde ainda há o que fazer."

Bom, é isso. Agradeço aos garupas que me fizeram companhia que poderia ter sido uma jornada deveras solitária, dessa vez sem a presença física da Antonela, que com certeza tanto gostaria de ter vindo. Poderíamos ainda ter visitado vários outros lugares que havia elencado (Chapada Gaúcha para visitar o Parque Nacional Grande Sertão: veredas, Paredão de Minas - onde tanta coisa importante aconteceu na vida de Riobaldo e Diadorim, Alto Urucúia - lá onde tanto boi berra e onde vaca pare na tempestade, onde trovão retumba que é capaz até de fazer o senhor chorar), mas por uma série de motivos esses destinos tiveram que ficar para uma próxima etapa, ou melhor dizendo, uma próxima TRAVESSIA!

Até lá, até lá. Até lá!

"O diabo não há! É o que eu digo, se for... Existe é homem humano. Travessia." - Jagunço Riobaldo - Grande Sertão: Veredas - João Guimarães Rosa


2 comentários:

  1. Marcos,

    Parabéns pela conquista e até lá, até lá, até lá, no infinito...rsrs

    Abraço,

    Rodrigo - Varadero Goiana.

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  2. Má, muita alegria de ser sua mulher...

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