quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Um outro estado de consciência em Tocopilla

Estávamos no Chile. Paramos em Tocopilla para abastecer. Havíamos saído de Iquique e nosso destino final do dia era San Pedro de Atacama. Chegamos em Tocopilla seguindo pela Ruta 1, litorânea, desbravando aquela paisagem meio deserto meio praia.

No posto da cidade, conhecemos um americano da California (não me recordo mais seu nome). Vinha de lá em direção a Ushuaia em sua Harley. Nessas ocasiões a empatia é imediata, dois MOTOviajantes sempre buscam conversar, se conhecer, trocar informações.

CENA 1:
Um americano conversando com dois brasileiros (Eu e a Antonela), no pátio do posto - Estación de Servicio.

O americano falando em um espanhol digno de um americano que NÃO sabe falar espanhol.
[o que deu prá aprender do México para baixo em alguns meses alijado da língua inglesa]

Os brasileiros falando com o americano em inglês fluente (Eu e a Antonela falamos bem a língua inglesa).

O americano respondendo na mesma modalidade de espanhol descrita acima.

A conversa durou uns 15 minutos na qual falamos de diversos assuntos, sem que o americano pronunciasse uma só palavra em inglês (e nós SÓ falando em inglês!).

Nos despedimos, ele com um Hasta Luego! e nós com um Peace and Happiness!

COMENTÁRIOS

Imagino o cidadão saindo da California rodando até Tocopilla. Dias e dias no lombo da moto, lugares desconhecidos, gente idem, idioma também desconhecido. O tempo passa, a rotina é composta por acordar, percorrer o trajeto do dia, assegurar que a MOTO funcione e tenha combustível, que o corpo tenha alimentação e pouso ao anoitecer, em uma sequência interminável de dias.

Nessa rotina, em que horas e horas a sós dentro do capacete se alternam com alguns instantes de [tentativa de] socialização em língua espanhola, a estrada funciona como um mantra, e o ser encontra um novo estado de consciência.

Nesse estado, a vida é simples (composta pela rotina acima descrita), a mente se livra de tudo o que foge a isso, e o ser está pronto para viajar por meses consecutivos entoando o seu mantra, sem se preocupar em ir ou estar.

Um estado tão peculiar que faz com que a pessoa se esqueça até de que sabe falar a sua língua materna, e prefira falar uma língua que não sabe falar.

Essa é a conclusão que eu retiro desse insólito encontro. Eu já entoei esse mantra e posso testemunhar que realmente entramos em um estado mental diferente. Você já vivenciou algo parecido?

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