Comando-em-chefe das forças em operações no interior do Estado da Bahia, e do 3o distrito militar, em 5 de outubro de 1897. - Ao cidadão marechal Carlos Machado Bittencourt, D. ministro da Guerra - Parte - A necessidade de evitar que o inimigo continuasse, ainda que com dificuldade, a utilizar-se do rio Vaza-Barris, único ponto dágua de que dispunha, a conveniência de cortar a ação mortífera de sua fuzilaria, partida das igrejas velha e nova, onde entrincheiravam-se e causavam-nos consideráveis baixas, e, ainda, mais, para reduzir o perímetro de sítio a que estava sujeito, levou-me a determinar um novo ataque à cidadela de Canudos.
Às 6 horas da manhã, conforme estava ordenado, a artilharia rompeu vivíssimo fogo ao reduto inimigo, cessando meia hora depois, ao toque do comando-em-chefe, "infantaria, avançar".
A 6a brigada da Segunda Coluna, composta do 4o batalhão de infantaria, disposto na margem do rio, 29.o e 39.o, na trincheira sul da cidadela, deveria assaltar, simultaneamente com a 3a brigada da Primeira Coluna, composta do 5.o, 7.o, 25.o e 35.o batalhões, à retaguarda e flancos da igreja nova, carregando à baioneta, a fim de desalojar o inimigo, fortemente entrincheirado.
Dado o assalto, o inimigo internou-se nas casas do Centro, as únicas que ocupava, sendo difícil aos soldados carregar à baioneta, pela latada a dentro, diante dos embaraços com que ofereciam as casas agrupadas e as cercas existentes, ficando apenas livres três entradas onde os nossos camaradas nas investidas eram recebidos a descargas de nutrido fogo.
Assim protegido, o inimigo ficara de posse de algumas trincheiras que não foi possível tomar no momento, embora as forças assaltantes recebessem o auxílio da 1a e 5a brigadas.
O inimigo construiu dentro das casas uns fossos que ficavam abaixo do solo, junto das paredes que seteavam e daí faziam um fogo mortalmente certeiro, enquanto ficavam a salvo de nossos fogos. Demais, unidas as casas umas às outras, e comunicando-se por subterrâneos, tomada uma delas, escoava-se para outra, donde algumas vezes já havia sido desalojado.
Conquanto caíssem vítimas do dever militar e patriótico muitos dos nossos bons companheiros, realizou-se o que eu almejava, e que era tomar ao inimigo a aguada de que dispunha, para reduzi-lo à sede, as igrejas e inúmeras casas e fojos onde abrigavam-se e fugiam à fuzilaria de nossas linhas.
Às 7,30 horas da manhã, sendo mandado tocar "5.o corpo de polícia, avançar", este tomou a posição que lhe foi indicada à retaguarda da igreja nova e reforçado depois com o 1.o do Estado do Pará, firmaram esta posição, tendo sido às 11 horas colcoada a bandeira da República nas ruínas da mencionada igreja, tocando as bandas de música o hino nacional, seguidas pela marcha de continência das cornetas, tambores e clarins, e saudada pelo estampido dos canhões e gritos de entusiasmo que acompanhavam as cargas à baioneta e de calorosos vivas à República.
Eis, resumidamente, o que foi o assalto efetuado a 1.o do corrente, à cidadela de Canudos, e que trouxe ao inimigo o seu completo aniquilamento. Desde então a fome e a sede haviam de reduzi-lo à rendição ou morte.
É impossível descrever-se a intensidade dos fogos inimigos, e o cruzamento de balas que sofriam nossas forças, que os iam desalojando, ora à bala, ora com brilhantes cargas à baioneta.
Como sempre, nesta campanha, os nossos bravos soldados foram sublimes em valor e entusiasmo. Avançava uma força numerosa e, em pequeno espaço de tempo, diminuía de metade, não recuava. Também, como era natural, a raiva tocava o seu auge, e tanto o inimigo como os nossos esqueciam-se da misericórdia.
Fuzilavam-se a dois passos de distância, ou matavam-se à baioneta, à machadinha, à faca, por todas as formas, enquanto que as casas conquistadas, verdadeiros redutos, eram devastadas pelo incêndio.
Ao meio-dia, definidas as nossas conquistas, aí se colocaram as nossas forças, entrincheirando-se. Estava terminado o combate, restando ao inimigo poucas casas e fojos.
[retirado trecho onde tece elogios aos oficiais dos corpos]
Sinto o dever de inscrever na presente parte, dentre aqueles que heroicamente pagaram com a sua vida, esse imposto glorioso que a nossa pátria exigiu, nas horas de sacrifício, os nomes dos bravos: tenente-coronel Antônio Tupi Ferreira Caldas, comandante da 5a brigada, cuja espada valia uma garantia para a República,e majores José Moreira de Queiroz e Henrique Severiano da Silva e capitão Antônio Manuel e Silva, assistente do comando da Segunda Coluna, que tombaram no campo de honra, firmando assim naquele exemplo de valor, que o exército tem abnegados que sabem morrer no seu posto.
[retirado trecho onde tece elogios aos oficiais do estado-maior]
Sanguinolento foi esse combate, mas também foi um novo padrão de glórias para o exército brasileiro. Foi mais um sacrifício feito pelos bravos, por amor à República, que tanto estremecemos e pela qual nos julgamos honrados, servindo-a com armas na mão.
Contamos infelizmente, 467 baixas, entre mortos e feridos, como consta nas relações juntas; mas o inimigo perdeu o dobro, além de mulheres e crianças, em número de 900; perdeu posição, recursos, 600 armas, 4 canhões Krupp, desmontados, caixas de guerra, cornetas, munição e 90 prisioneiros, gravemente feridos. É para lamentar que o inimigo fosse tão valente na defesa de causas tão inadmissíveis. - Viva a República dos Estados Unidos do Brasil. - Viva as Forças Armadas Expedicionárias no interior do Estado da Bahia! (assinado - Artur Oscar de Andrade Guimarães, general-de-brigada.)
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