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quinta-feira, 16 de junho de 2011

Goiânia! - A madrugada que embranqueceu!


"O senhor vá ver, em Goiás, como no mundo cabe mundo." - jagunço Riobaldo - Grande sertão: veredas

Hoje saí para o sertão de novo... Consegui um alvará de soltura em casa (viva a Antonela que vai segurar a bronca sozinha com o Vítor!) e vim passar uns dias em Goiás.

Fazia tempo eu queria chegar na divisa da foto. Mas Minas é um estado muito grande, só sabe quem já viajou pelo norte dele - e a tal divisa goiana nunca chegava. Muitos lugares legais para drenar o tempo de quem viaja pelo norte de Minas. Dessa vez chegou!

Foram os 1000 Km mais indolores da minha vida. Saí 5:30 da matina, cheguei aqui 15:00 - média global superior a 100 Km/h. Moleza!

Saindo de casa, uma madrugada bastante gelada, e dessa vez eu estava bem protegido do frio. Luava forte, lua cheia, um farol lá em cima. E seguindo pela Rodovia dos Bandeirantes, muita neblina, a madrugada embranquecida pela luz da Lua no neblim. Mais adiante, perto de Ribeirão Preto, com o nascer do dia, dos pontos mais elevados da estrada eu avistava as nuvens acumuladas nos vales, para entrar nelas quando chegava lá embaixo. Da banda da mão esquerda a Lua, e da banda da mão direita, o Sol. Todo nascer do dia na estrada é um espetáculo, que nunca se repete!

Até a divisa com Minas um tapetão. Depois até Uberlância também. Depois de Uberlândia trechos em obras, rodovia em duplicação, até trecho de terra peguei. Aproximando da divisa goiana pista duplicada novamente. E assim até aqui.

E em Minas, bastante vento lateral. Para dar mais gostinho na pilotagem...

E chegando aqui um calorzão bom, prá quem tava no frio de São Paulo. Sucesso!

Agora à noite marquei de sair com o irmão Rodrigo Bastos aqui de Goiânia. Vamos tomar umas cangibrinas...

Beijos a todos que estão me acompanhando. Gostaria muito que a Antonela estivesse aqui comigo, assim como o Vítor, e o Ernesto Miguel André Bruno (The Serial Keeper) Maurício Felipe Mariano Esquistossoma Etcétera - o sobrenomeado em quantidades que está na barriga da Antonela.

Amanhã, para algum vilarejo pequeno pros lados do norte do Estado de Goiás! Até lá, até lá. Até lá!

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Desde dezembro





Vejam que não teve post esse tempo todo.

Highlights do período:

Estava em El Chaltén no período em que o alpinista carioca Bernardo Collares tentava subir o Fitz Roy. Acabou que ele faleceu na tentativa. E começou que naqueles dias o clima estava estranhíssimamente bom e sem as inconstâncias típicas da Patagônia. Ceu azul, azul, azul, um calorão (fui visitar o Glaciar Perito Moreno de bermuda e camiseta), com NENHUM vento, e o Fitz Roy majestoso deixando-se ver de todos os lados sem as habituais nuvens ocultando seu pico. Visão de tirar o fôlego!

E voltando de El Chaltén para El Calafate pude cumprir uma promessa que há muito eu NÃO tinha feito, mas ao cumpri-la foi como se na verdade tivesse prometido e reprometido: parei na estrada, ao lado de um altar da Defunta Correa (se alguém não conhece a história desse mito patagônico é só falar que eu explico depois em outro post) e pude, silenciosamente, depositar uma garrafa de água ao seu altar e, com a mente livre de pensamentos, experimentar a gratidão pela oportunidade de ter vivido tudo o que compartilhei com a Antonela por cada centímetro percorrido através dos milhares de quilômetros que rodamos de MOTO pelas estradas patagônicas austrais, onde o imaginário da Defunta Correa sempre esteve conosco.

"Eu sei que esta narração é muito, muito ruim para se contar e se ouvir, dificultosa; difícil: como burro no arenoso. Alguns dela não vão gostar, quereriam chegar depressa ao final. Mas - também a gente vive sempre somente é espreitando e querendo que chegue o termo da morte? Os que saem logo por um fim, nunca chegam no Riacho do Vento. Eles, não animo ninguém nesse engano: esses podem, e é melhor, dar volta para trás. Esta estória se segue é olhando mais longe. Mais longe do que o fim; mais perto. Quem já esteve no Urubuquaquá?" - João Guimarães Rosa - Cara-de-bronze - No Urubuquaquá, no Pinhém - Corpo de Baile

Parabéns, Bernardo, você chegou ao Riacho do Vento, e seu corpo descansa lá agora. Quem já esteve na Patagônia? [e se sentiu longe de todos, mas longe de todos, e mais perto do seu verdadeiro ser?]

"O senhor sabe o que o silêncio é? É a gente mesmo, demais." - jagunço Riobaldo - Grande sertão: veredas - João Guimarães Rosa

sábado, 25 de dezembro de 2010

Mais do Guimarães


"Quando escrevo, repito o que já vivi antes.
E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente.
Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo
vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser
um crocodilo porque amo os grandes rios,
pois são profundos como a alma de um homem.
Na superfície são muito vivazes e claros,
mas nas profundezas são tranqüilos e escuros
como o sofrimento dos homens." - J. G. R.

Conhecer Guimarães Rosa, através deste outro léxico, que ele próprio emprega para contar-se em palavras, abre um universo no qual reparo minha imensa ignorância, e aguço minha curiosidade para ler e humildemente aprender. Meu guia nesta viagem tem sido meu marido, e com este propósito me levou a Cordisburgo, a cidade natal do Guimarães, pequenina, cravada nos morros de Minas.
Já conhecia Cordisburgo, da infância, da Gruta do Maquiné. Mas não a conhecia pelo olhar do escritor, do poeta. A gruta visitamos logo pela manhã, com seus sete salões amplos, já transcritos em nosso blog nas belas palavras do Guimarães, na primeira viagem do Marcos ao sertão: 


Depois fomos ao Museu Casa do Guimarães, erguido na casa onde viveu com seus pais no início do século passado. Bonito, bem cuidado, rico em história e leitura. A visita guiada pelo contador mirim é emocionante. Ouvimos a passagem do Grande Sertão em que Diadorim fala que seu pássaro preferido é o Manuelzinho-da-crôa. Lindo demais, lágrimas nos olhos de nós três: Nos meus e do Marcos, de emoção, nos do Vítor, quando foi ao colo da contadora mirim e se afastou da mãe...


Foi isso. Foram estes 6 dias de visita rápida a um mundo diferente escondido nas serras e nos gerais. É preciso mais tempo para absorver mais da nossa terra e da nossa gente, tão diferente da gente mesmo, mas tão rica e tão cheia de lições. Até a próxima! Até lá, até lá. Até lá!!!

Dia 22/12: Mais pirão, e as piranhas...

Onde antes era só cerrado, hoje dominam os eucalipais: árvore única, avessa ao diverso, ao ex-biodiverso da fauna e flora locais, enfileiradas em um exército que resseca, invade, homogeniza. São milhas de sertão assim transformados para mover a máquina do mundo moderno. Testemunhar tão de perto traz culpa, a eterna culpa que não nos deixa desde que somos seres transformadores da natureza.
Passeamos pela BR040 de Pirapora à Três Marias: na faixa estreita que envolve a rodovia, cerrado virgem, guardado pelo governo federal, relembrando o que foi ontem. Fora isso é só eucalipto sem ter mais fim. Cruzamos o Rio "Abaeté", primeiro afluente do Chico depois da represa de Três Marias. Paramos para abastecer nossos corpos com surubin no Rei do Peixe, embaixo da ponte que passa o Rio São Francisco naquele ponto. Mais pirão de peixe pro Vitinho. E dali à Praia Mar de Minas, na represa. Quase mergulhamos na água convidativa, morna e cristalina, com nosso filhinho nos braços. Em tempo, fomos alertados da existência de piranhas naquele pequeno trechinho de "mar"...
O menino turbinado com pirão, a salvo das piranhas, ganhou uma ducha para refrescar e seguiu viagem com seus pais...

Próxima parada: Andrequicé - distrito de Três Marias onde viveu o vaqueiro Manuelzão, eternizado na obra de Guimarães Rosa. Lá um pequeno museu em sua memória na casa em que viveu: belo e simples, mas simples demais. Mesmo sendo a simplicidade o que sua vida tem mais a nos ensinar, nota-se outra vez a lamentável falta de interesse na conservação do patrimônio histórico de Minas Gerais. 

Havíamos desviado 20 km da BR para visitar Andrequicé, fomos e voltamos por entre eucaliptos da Gerdau, que invadiram e secaram o riacho de Andrequicé, conforme nos contou uma habitante local.
Dali, tomamos o rumo de Cordisburgo, pousada das flores, restaurante Sarapalha, vencedor no quisito "sinistro" da viagem, repouso nas flores, noite bem dormida e descansada. 


quinta-feira, 1 de julho de 2010

Cordisburgo - cidade natal de Guimarães Rosa




29 de junho - terça-feira

De Três Marias a Cordisburgo um pulinho - cerca de 200 Km: 180 pela BR-040 e mais 20 da estrada que leva até a cidade (burgo) do coração (cordis).
Lá Guimarães Rosa nasceu e viveu até os 9 anos de idade incompletos. Lá seu pai era dono de uma venda, uma loja de "secos e molhados" - e lá manteve desde cedo contato com o universo sertanejo. Basta ler o seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras para se saber a importância de Cordisburgo em sua vida, e o afeto que mantinha por essa pequena cidade.
Lá pertinho (5 km, bem sinalizado) fica a gruta do Maquiné, com seus 7 grandes salões:

"E mais do que tudo, a Gruta do Maquiné - tão inesperada de grande, com seus sete salões encobertos, diversos, seus enfeites de tantas cores e tantos formatos de sonho, rebrilhando risos de luz - ali dentro a gente se esquecia numa admiração esquisita, mais forte que o juízo de cada um, com mais glória resplandecente do que uma festa, do que uma igreja" - trecho de O recado do morro - no Urubuquaquá, no Pinhém

Cedinho fui visitar a gruta. Depois do texto acima, não preciso dizer como ela é bonita. Vale a pena ser visitada. Salões enormes com grandes formações de deixar a gente boquiaberto.

Depois do almoço, de mais uma comidinha mineira básica (um feijãozinho tropeiro, um torresminho, que delícia!) - fui visitar o museu Casa de Guimarães Rosa.

Fica na casa da família, onde morou e onde o pai tinha a venda. A casa está muito bem conservada, conta com um pequeno acervo do escritor, com coisas simples como uma coleção de suas marcantes gravatas borboletas mas com peças de estimado valor, como a espada e bainha da posse na academia de letras (o fardão ele foi sepultado com ele - trata-se de uma tradição da academia - ele morreu três dias! (isso mesmo) após a posse), a máquina de escrever onde ele escreveu Grande Sertão: Veredas, uma pequena biografia da sua vida com fotos. A venda do pai, que ficava na parte da frente da casa, bem conservada, dá prá imaginar o menino Joãozito escondido embaixo do balcão escutando as histórias dos clientes, gente do sertão.

Agora, o principal patrimônio do museu eu não falei, são os meninos contadores de história do projeto Miguilim. Eles acompanham a visita ao museu, comentam sobre o acervo e depois contam histórias: para o meu grupo, um dos contadores recitou um trecho da história de Miguilim e outro contador recitou um texto do Guimarães falando da sua infância. Emocionante - e muito bom ver como os meminos conhecem e se interessam pela vida e pela obra do Guimarães Rosa. Fiquei muito feliz em testemunhar isso. Muito me entristecia ver que muitas pessoas por esses meus dias de viagem, nos diversos locais, sequer sabiam quem foi Guimarães Rosa.

Em frente ao museu, a estação de trem de Cordisburgo. Lá onde Sorôco embarcou sua filha e sua mãe para o hospício em Barbacena (de Sorôco, sua mãe, sua filha - conto de Primeiras Estórias).

Esse foi o último programa da Expedição ao Sertão. Assim como na viagem de 2007 a Ushuaia, em que cumprimos o último destino turístico em Alta Gracia, na Argentina, região serrana de Córdoba, no museu Casa del Che - museu feito na casa onde Ernesto Che Guevara passou a infância - agora termino esta expedição visitando o Museu de Guimarães Rosa. E assim como foi emocionante demais andar pelos corredores onde andou Che Guevara, no final da viagem que foi um tributo à memória e ao mito dos ideais de Che Guevara, hoje também foi especialmente emocionante conhecer o museu Casa de Guimarães Rosa e os meninos contadores de História do Projeto Miguilim - nessa expedição que foi um tributo à memória de João Guimarães Rosa e do vaqueiro Manuelzão, do mito de Riobaldo e Reinaldo, ou Diadorim, ou Maria Deodorina da Fé Bettancourt Marins, ao sertão que é do tamanho do mundo.

"Sertão é sem lugar. Sertão é o sozinho. Sertão é dentro da gente."

"O Sertão está em toda a parte. O Sertão é do tamanho do mundo"

"Sertão, - se diz -, o senhor querendo procurar, nunca não encontra. De repente, por si, quando a gente não espera, o sertão vem."

Com o coração apertado começo a despedida desses lugares pelos quais peregrinei nos últimos 10 dias, buscando referenciar meus passos na vida e na obra de Guimarães Rosa.

Amanhã tocar o pau prá São Paulo. As saudades me puxam prá lá.

domingo, 20 de junho de 2010

Grão Mogol

Ontem tive a honra de conhecer (pessoalmente) o Pablo, sua namorada, o Marcus Vinicius e sua namorada, com os quais jantei. Muito boa a conversa que tivemos! Meus sinceros agradecimentos à recepção que tive! Muito obrigado, amigos!


Agora, cheguei a Grão Mogol: e hoje não tem foto de novo! (o computador não permite...) - e a conexão é uma tosqueira só! Amanhã escreverei um pouco mais - agora é só para noticiar aos amigos minha chegada a Grão Mogol.


A estrada: BR-251 (Montes Claros direção BR116 - Salinas - Bahia): primeiros 30 km uma porcaria (buracos, facões na pista - aqueles calombos no sentido do rolamento ocasionados pela tração dos pneus dos caminhões -, irregularidades, aquele asfalto brilhante derrapante e caminhão atrás de caminhão). Depois, ela está reformada, fica boa até o entroncamento com a estrada para Grão Mogol que está ASFALTADA (nos guias e no GPS constava que era de terra) com um asfalto que dá vontade de descer da moto e beijar, daquele lisinho como mesa de sinuca e bem aderente. A paisagem é espetacular...


A cidade: histórica. Muito antiga (bem antes de 1800 - na época da busca de ouro e pedras preciosas). As pessoas acham que a Estrada Real começa em Diamantina, mas na verdade ela começa aqui em Grão Mogol. Pavimentação e muitas edificações de pedra (tipo uma São Tomé das Letras). Hotel por R$ 25,00 (imagina o naipe). Cidade bem pequena (sem sinal de celular: meu sonho de consumo!) - muita tranquilidade. Clima serrano (Serra Geral). Houve um tempo em que Montes Claros era distrito de Grão Mogol. Hoje na cidade de Grão Mogol moram cerca de 6 mil pessoas, e em Montes Claros são 400 mil...



O livro (Grande Sertão: Veredas): perto de Grão Mogol Riobaldo desiste de acompanhar Zé Belelo, antes de re-encontrar Diadorim e de se avassalar a Joca Ramiro. Para Grão Mogol Riobaldo, Diadorim, Alaripe e a turma de Titão Passos rumam para se juntar à jagunçagem para dar prazo à vingança da morte de Joca Ramiro. Em Grão Mogol nasceu Freitas Macho, jagunço amigo de Riobaldo.


O almoço: Feijão tropeiro e Skol. Uêba!!!!!!


O Céu: azul eterno nessas épocas pelo sertão. Chuva, só no fim-do-mundo!


Saudades da Antonela e do Vítor!


Aguardem - mais notícias em breve!


"O que o medo é: um produzido dentro da gente, um depositado; e que às vezes se mexe, sacoleja, a gente pensa que é por causas: por isso ou por aquilo, coisas que só estão é fornecendo espelho. A vida é para esse sarro de medo se destruir; jagunço sabe. Outros contam de outra maneira." - jagunço Riobaldo



domingo, 29 de novembro de 2009

O que fazer na vida agora?


"Sempre sei, realmente. Só o que eu quis, todo o tempo, o que eu pelejei para achar, era uma só coisa — a inteira — cujo significado e vislumbrado dela eu vejo que sempre tive. A que era: que existe uma receita, a norma dum caminho certo, estreito, de cada uma pessoa viver — e essa pauta cada um tem — mas a gente mesmo, no comum, não sabe encontrar; como é que, sozinho, por si, alguém ia poder encontrar e saber? Mas, esse norteado, tem. Tem que ter. Se não, a vida de todos ficava sendo sempre o confuso dessa doideira que é. E que: para cada dia, e cada hora, só uma ação possível da gente é que consegue ser a certa. Aquilo está no encoberto; mas, fora dessa conseqüência, tudo o que eu fizer, o que o senhor fizer, o que o beltrano fizer, o que todo-o-mundo fizer, ou deixar de fazer, fica sendo falso, e é o errado. Ah, porque aquela outra é a lei, escondida e vivível mas não achável, do verdadeiro viver: que para cada pessoa, sua continuação, já foi projetada, como o que se põe, em teatro, para cada representador — sua parte, que antes já foi inventada, num papel..." - Jagunço Riobaldo - Grande Sertão: Veredas - Guimarães Rosa

Gostaram dessa passagem? Grande Sertão é assim, uma obra-prima permeada de sabedoria em infinitos trechos. Cada vez que passo o olho me dou conta de um sentido encantador para determinada passagem que não havia dado a merecida importância. E quando acabei de ler o livro, fiquei com saudades de ouvir o Riobaldo contando as suas estórias.

Agora, me respondam, o que vocês acham: concordam que para cada dia, cada hora, existe uma só coisa certa a fazer?