quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Carta ao Barão - o fim da guerra (?!?!?!??????)

Serra, 15 de outubro de 1897

Caro Primo, Compadre e Amigo Barão,

Peço-lhe, e dou minhas alvíssaras pela morte do monstro horroroso do Brasil, Antônio Maciel; assim como dos seus maiores confidentes, Macambira, Norberto, Manuel Franco, que levaram com o monstro três dias esperando sua ressuscitação, desenganados deram sepultura em uma rasa cova deitando quatro imagens, duas nos ombros, uma na cabeça e outra nos pés, cobrindo com um couro e deitando pouca terra, saindo com a barriga arrastando pelo chão o Manuel Franco, e fugindo, e ficando Macambira e Norberto no covil por estarem baleados e ali morreram; depois de oito dias que tomaram tudo foi que souberam onde a cova do monstro por declarar um jagunço, sendo desenterrado já em estado de não poderem agüentar, tirando o retrato do monstro de camisola, alpargatas, e enterrando, depois deliberaram a mandar cortar a cabeça para levarem.

O tal monstro Vilanova fugiu encontrado na Formosa. Tranqüilino monstro malvado pegado sangrado e queimado. Houve para mais de duzentos degolados de dois para três dias seguindo, assim, e assim tem seguido. Muitas mulheres e crianças em Monte Santo, seguindo para a Bahia para dar maior dispêndio ao Estado!! que devia era tudo ser degolado mas assim não quer o tal marechal, que diz retirar todas as forças deixando o sertão contaminado por mais de 2 a 3 mil jagunços; das Tocas às caatingas do Rosário, Alagoas, Goloso, Duas Serra, Massacará, até o tucano cheio. Só no Caimbé em um dia passaram sessenta e tantos; por aqui têm passado muitos e têm pegado alguns indo para Monte Santo. Considero que agora vamos em perigo porque eles se reunirão em grupos para roubar. (...) Deve você mandar escrever essas notícias, não dizendo de onde soube, pois é uma grande miséria aquele safado [Ministro da Guerra] deixar essas zonas sem forças para tomar o mesmo caminho que tomou desde Rodrigues Lima, miserável que deu grado a haver nesse infeliz sertão o arraso que houve por muitos anos.

Os jagunços estão se reunindo nas caatingas e dizendo que o infeliz tem de ressuscitar para vir mostrar que é Deus. Já vi portanto que o fanatismo ainda não se acabou destes malvados, e ficando sem serem perseguidos nestes pontos onde estão muito pior.  (...)

Desejo que com os doutores e minha prima gozem saúde completa recebendo minhas saudosas visitas e o abraço.
do Primo Compadre, Amigo do Coração,

José Américo

[carta do Coronel José Américo Camelo S. Velho - fonte: Canudos - Cartas para o Barão - Consuelo Novais Sampaio]

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