"Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar. Viver é muito perigoso... " - jagunço Riobaldo - Grande Sertão: Veredas - JGR
Para mim foi momento solene.
Imaginar quantos mortos há debaixo dessas águas. Os cemitérios de Canudos, de Belo Monte.
Os sertanejos mortos no confronto. Estima-se que 20 mil conselheiristas, para mais, ou para menos, estejam sepultados aqui. Creio que grande parte nem tenha recebido sepultamento, propriamente, pela forma do desenrolar da guerra.
E mais os soldados combatentes mortos. As crianças, os velhos, as mulheres.
Quanto sofrimento eu imagino ter corrido aqui. O diabo na rua, no meio do redemunho. E o que talvez seja o maior milagre de todos, a enorme paz que eu sinto estando aqui. Teria a fé do Conselheiro e dos sertanejos da cidadela sublimado toda a memória do sofrimento, da guerra, desse lugar?
E que caminhos foram esses que me trouxeram até aqui?
Tive medo de sair para essa peregrinação. Não sabia se chegaria até aqui.
Pois bem, cheguei, e agora o momento mais difícil, o de mergulhar nessas águas, sabendo tudo o que eu sei. Tenho medo?
E eu mergulhei nas águas do açude...
Que estranha comunhão é essa que me leva a mergulhar nessas águas, de tantos mortos, de beber essa água salobra, de comungar dos restos mortais dessa gente, sangue do meu sangue brasileiro, dessa guerra fraticida, respeitosamente?
Seria a vontade de morrer também, e sair daqui renascido, para outros rumos, para o futuro, que está acima do futuro, e não debaixo do passado?
Agora eu sei menos do que eu sabia. E escrevo essas mensagens não para o leitor do blog, mas para mim mesmo, para tentar descobrir o que aconteceu comigo nessa peregrinação.
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