A república proclamada por um movimento de elites, despossuída de um caráter de envolvimento popular.
O contraste entre a vida no litoral (das grandes capitais, da capital da república nascente, do Brasil mais "desenvolvido") e no interior (o sertão, o Brasil às margens dos acontecimentos mais importantes).
O desconhecimento da realidade sertaneja pelo Brasil que escrevia e lia jornais, pelos núcleos urbanos mais importantes, pelas classes políticas apoiadoras da república, ainda como componente do contraste litoral versus interior.
O isolamento e a situação de abandono do sertanejo.
A realidade histórica de um povo sofrido, em ambiente hostil: o Hércules Quasímodo descrito por Euclides da Cunha. Um povo conhecedor da região e acostumado às suas características.
O equilíbrio político da região: a Bahia e sua adesão retardada ao movimento republicano. O coronelismo e a servidão. O crescimento vertiginoso de Belo Monte e seu relacionamento político e comercial com os detentores de poder locais: com os representantes da igreja, com os coronéis donos de terras, com as cidades do entorno.
Os sentimentos de aceitação e repulsa dos representantes do poder e da população sertaneja pelos conselheiristas. Desenvolvimento de relações de boa vizinhança por alguns entes políticos locais (coronéis, intendentes e sacerdotes), migração da população sertaneja para o povoado (que continuou mesmo após o início dos combates), manifestações de desagrado e pedido de respaldo militar entre entes federados. A ameaça dos jagunços e ações violentas / banditismo.
A fé do sertanejo e a esperança por dias melhores. A longa peregrinação do Conselheiro pelo sertão e a reputação construída. As prédigas do Conselheiro. A construção de uma cidade fraterna, com direito ao exercício da fé, à esperança da salvação e o acesso a recursos de subsistência (moradia e alimentação) fora do contexto da servidão nas propriedades dos coronéis.
O aporte ao arraial da população pobre sertaneja, de negros alforriados (os negros de 13 de maio) como idos a uma comunidade quilombola, de índios caimbé. A coexistência de grupos diversos, não só etnicamente mas de pessoas de origens variadas, do lavrador ao vaqueiro, do jagunço e do cangaceiro.
A chegada de tropas de linha constituídas por pessoal despreparado tática e tecnicamente para o combate na caatinga. A inadequação do material (armas e fardamento). A inexistência de rede de intendência e de suporte: a necessidade de depender dos recursos locais em uma região árida e hostil. A ausência de diagnóstico preciso do contexto local: desconhecia-se o porte da cidade, o número de jagunços, o armamento utilizado pelo inimigo, seu modus operandi. A insistência em não obter conhecimento com os erros dos antecedentes, levando à derrota três expedições militares.
A ausência de presença do estado como provedor de políticas públicas. A desconfiança despertada pelas tropas na população local, então primeira manifestação de presença do estado na região. A apropriação de casas, de recursos alimentares, de animais de carga pelas forças republicanas.
O negócio da guerra: coméricio de insumos para subsistência das tropas e dos jagunços, de animais de carga. Desvio de recursos financeiros e materiais (sim, isso não é novidade na história do Brasil). A insuficiência material ao cuidado das tropas. Precariedade dos serviços e das condições de saúde. A elevada mortalidade entre os feridos.
A manipulação política (do município à república) como objetivo das ações desenvolvidas no decorrer do conflito - levando ao sacrifício de recursos (incuindo-se, evidentemente, de vidas humanas).
Apenas algumas considerações para mostrar ao leitor a extensão das dificuldades em se compreender o contexto do momento histórico. Sigamos adiante, não menos confusos e perplexos que os brasileiros da época...
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