Amigos, hoje ainda estou em Monte Santo. Tenho muito a escrever sobre tudo isso que estou vivendo, as coisas da viagem mais as ligações históricas. Creio que não conseguirei transmitir tudo aquilo que fervilha na minha cabeça sobre essas paragens.
Abaixo uma foto do famoso canhão Withworth 32, alcunhado pelos jagunços na época do conflito de Canudos de "A Matadeira", que hoje está exposto na praça principal de Canudos, Praça Monsenhor Berenguer, onde também há uma estátua do Conselheiro:
O canhão, com todo seu equipamento, pesava mais de 1500 Kg, e foi transportado de Queimadas (cidade mais próxima onde havia estação férrea) até o palco de guerra através de mais de 150 Km de estradas precárias, com o auxílio de um batalhão de sapadores que iam melhor adequando o caminho a tão penoso transporte. Para tanto, foi necessária a tração animal de 20 juntas de bois! Apenas um exemplo das dificuldades operacionais enfrentadas pelas tropas republicanas.
Como sabemos, Monte Santo foi ponto de passagem para a 3a Expedição do Exército brasileiro contra Belo Monte (a malfadada expedição do Coronel Moreira César, paulista de Pindamonhangaba) e foi a base operacional do exército durante a 4a Expedição do General Artur Oscar. No transcorrer do confronto, o ministro da Guerra da época, Marechal Bittencourt, em pessoa, tomou posto em Monte Santo gerenciando as operações logísticas, de intendência, disponibilizando recursos materiais para as tropas (munição de arma e de boca, animais, organizando os comboios) - operação que foi tão negligenciada nas expedições anteriores e que assegurou ao exército uma condição mínima para vencer esse duríssimo conflito:
E estabeleceu, pela única vez na história da República, um ministério fora da capital federal, despachando do prédio antigo da prefeitura. Como curiosidade, o visitante pode observar neste prédio a presença do Brasão da República em sua fachada:
Para Monte Santo foram transportados, dos Hospitais de Sangue do exército, instalados no palco da Guerra, em comboios, os soldados feridos. Escavações realizadas na cidade encontraram um grande número de ossadas de soldados, que feridos em Canudos vinham morrer em Monte Santo. Impossível calcular o custo humano do conflito, o número de mortos, para ambos os lados, jagunços e soldados. Comentarei mais sobre isso adiante.
Abaixo uma foto da estátua do Conselheiro com o início da subida do Caminho da Santa Cruz ao fundo:
Como podem ver pelas fotos, ontem choveu bastante pela manhã aqui - a Serra amanheceu completamente oculta pelas nuvens, que estavam carregadas e bastante baixas. Abaixo fotos de hoje, já com o tempo aberto:
Abaixo a foto da casa onde teria morado o Antônio Conselheiro no período em que ficou em Monte Santo:
Casa que fica na Rua das Flores, logradouro onde ficam diversas casinhas da época da guerra:
E abaixo fotos do Museu do Sertão, que havia comentado no post anterior:
Conforme já disse, falta muito a comentar. Espero conseguir organizar as idéias e dispor mais informações em breve.
Frase do dia - em um restaurante aqui da cidade, o garçom me pergunta: "- O senhor vai querer carne de boi, frango, porco, bode ou burro?".
O leitor toparia comer uma carne de burro?
Amanhã seguiremos para o local do centro da tormenta desse terrível conflito. Mulheres, crianças, velhos, jagunços, cangaceiros e soldados no olho do furacão. Fiéis tementes a Deus, gente sertaneja, ex-escravos, índios Caimbé, paulistas, nordestinos, paraenses, gaúchos, gente de todo o Brasil. Não percam o que está por vir!
Até lá, até lá. Até lá!
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