quinta-feira, 19 de julho de 2012

Canudos não existe (mais)!

Essa é a minha opinião. Explico.

Primordialmente, Canudos era um entroncamento de caminhos no Sertão baiano, na margem esquerda do Vazabarris: as estradas de Geremoabo, Calumbi, Canabrava, Cambaio, Massacará, Rosário e Uauá, caminhos que levavam a Sergipe, Monte Santo, Cumbe (atual Euclides da Cunha) e às vilas ribeirinhas do Rio São Francisco. Por ali passavam tropeiros e mercadores.

E por que Canudos? Provavelmente por conta de uma planta que existe na região, os canudos-de-pito, utilizado pelos antigos habitantes como longas piteiras:



Eram terras de uma fazenda do Barão de Geremoabo, a assim chamada fazenda velha, cuja casa já estava em ruínas quando o Conselheiro escolheu o local para edificar o povoado.

Profundo conhecedor da região, soube escolher a dedo o local de fundação do arraial. Por ali havia passado já várias vezes, e os moradores cobravam a reforma da igreja local. A igreja, em ruínas, era ladeada por algumas dezenas de casas de adobe e palha.

Foram atendidos, e em 1893 inauguraram a Igreja de Santo Antônio, conhecida na guerra como Igreja Velha. Neste mesmo ano, o peregrino mudou-se para a vila e decidiu rebatizar seu nome para Belo Monte.

Então, a partir de 1893, já não existia mais Canudos como povoado. Já era Belo Monte. Vamos respeitar o nome de batismo do novo arraial que se edificava.

Arraial que cresceu até o posto de 2a maior população do estado da Bahia, perdendo apenas para a capital, Salvador. Estima-se que chegou a abrigar de 20 a 25 mil pessoas.

Entretanto, o estado republicano, os opositores do Conselheiro, os jornais da época e as documentações oficiais mantiveram a denominação de Canudos.

Terminada a guerra, depois de poucos anos, descendentes do conflito se estabeleceram novamente no mesmo local, à esquerda do Vazabarris. Acredito que pelas vantagens do local, à beira do rio e onde, mesmo em tempos de seca, havia aguadas e cavando-se cacimbas a água brotava. E me pergunto se também pela herança da liderança do Conselheiro ainda naquela gente, por se tratar do lugar escolhido pelo Santo (para muitos!) para a edificação da cidade fraternal de Belo Monte. Essa segunda cidade, chamou-se Canudos. Mas poderia ter sido chamada de Nova Belo Monte.

Em 1940 o então presidente Getúlio Vargas, em visita ao local, prometeu construir um açude na região. Em 1951 começas as obras do açude, que seriam terminadas pelo DNOCS (Departamento Nacional de Obras contra a Seca) à época do regime militar em 1967. Em 1969, estava cheio o açude, já com vazão a jusante.

A escolha da barragem em um ponto na Serra de Cocorobó alagou a região de Belo Monte. Onde então estava a Canudos da época. A população foi transferida para a cidade de Cocorobó, que depois de algum tempo passou a chamar-se Canudos, nome que, na minha opinião, impropriamente foi contaminando o nome dos núcleos urbanos estabelecidos nas proximidades da região do conflito.

Então hoje, onde está Canudos, foi e deveria ser Cocorobó.

E onde está Canudos Velho, não é Canudos Velho, pois Belo Monte foi completamente destruída pela campanha militar - que visou não deixar "pedra sobre pedra"; a nova cidade foi completamente alagada, e o que se chama de Canudos Velho na verdade é a vila do Alto Alegre, um vilarejo de pescadores.

Parece que Getúlio Vargas gostava de alagar e destruir lugares históricos. Pesquise no Google pelas Ruínas de São João Marcos.

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