Walter Rossini (alpinista argentino membro da expedição)
Pra mim é um problema de consciência, humano, algo assim...
[justificando porque decidiu não tentar o cume]
Creio que o Sarmiento pode tentar nos falar, mas neste momento ainda não me adaptei bem para poder escutá-lo.
[ao ser indagado sobre a possibilidade de tentar o cume em um dia lindo, em que o monte clamasse: Venha Walter, Venha! - com um “sorriso”, “pedindo” para ser escalado]
Não se morre por não chegar ao cume...
O Walter parecia ser o melhor alpinista física e tecnicamente falando. Aparentemente considerou inadequado subir ao cume dentro da estrutura do projeto, que incluía, além do objetivo "alpinístico", o cinematográfico. Talvez tenha se sentido incomodado com a visão do Monte e com o fato de ter os seus passos documentados no filme. Isso deve ter feito uma grande diferença: se envolver em uma atividade de risco e poder ter seu fracasso devidamente registrado.
Mas imagino que o peso do objetivo cinematográfico tenha sido um fator não crítico: provavelmente, se a equipe tivesse permanecido coesa, motivada e com a moral elevada, teriam tentado (que fique bem claro: tentar!) o cume mesmo arrastando uma âncora e dez operadores de câmera lá para cima.
O estado de espírito que conduziu o Walter a desistir do cume fica expresso quando declara que ele ainda não se adaptou para poder escutá-lo (ao Monte).
Com relação à última transcrição da fala do Walter: ao se realizar uma atividade de risco, você precisa estar preparado para abrir mão do seu objetivo. Isso é algo que parece óbvio mas imagino que muitos já se lançaram em algum tipo de aventura sem ter isso claro para si mesmos.
Tentar o objetivo sem levar em conta as circunstâncias reais do momento presente em que se iniciará a ação propriamente dita (no caso, a tentativa de cume a partir do acampamento) para mim é sinal de falta de maturidade e de inteligência.
Lemas como “nunca retroceder”, “sempre avante” e por aí vai não podem ser levados a sério pelo aventureiro que tem experiência, consciência e visão crítica do que está fazendo.
Ninguém é obrigado a nada. Perdeu a vontade, a moral baixou inesperadamente, está se borrando de medo ao ver a montanha, seus pés não querem se mover para lá? Não acordou bem-humorado? Não sente que está com a energia boa no momento? Se deu conta que não quer ir justamente só naquele momento? Enfie o rabinho no meio das pernas e volte para casa. Se o medo dominou você, tudo bem, isso é humano. Agora partir para uma escalada de risco sem o domínio e a consciência necessários das próprias emoções é um grande erro. Se algo vier a dar errado, o que não pode acontecer é depois vir a se lamentar com afirmações do tipo "eu não estava a fim" ou "eu sabia que ia dar errado".
Para mim, as declarações do Walter são indícios de que ele já atingiu a maturidade como aventureiro / esportista.
Pena ver que o grupo não teve a consciência do que estava contecendo, o que deu margem a uma série de desencontros e discussões. Mas fato é que em uma expedição com tantos membros, torna-se muito difícil não se deixar envolver pelo turbilhão das emoções e das vontades (ou da falta de vontade). Mas tudo isso serviu para rechear o clima do documentário com as emoções humanas durante a aventura.
“Medo que maneia. Em esquina que me veio. Bananeira dá em vento de todo lado. Homem? É coisa que treme. (...) Tem diversas invenções de medo, eu sei, o senhor sabe. Pior de todas é essa: que tonteia primeiro, depois esvazia. Medo que já principia com um grande cansaço. Em minhas fontes, cocei o aviso de que um suor meu se esfriava. Medo do que pode haver sempre e ainda não há. O senhor me entende: costas do mundo.” – Jagunço Riobaldo – Grande sertão: veredas – João Guimarães Rosa
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