Na entrada anterior do blog comentei do livro "A Arte de Pilotar o Medo" do Álvaro Larangeira.
Terminada a leitura do livro, fui para a net procurar um exemplar do livro anterior do Álvaro, chamado "O Passeio".
Felizmente encontrei um exemplar à disposição em um sebo virtual. Comprei. Li. Minhas impressões sobre o livro:
Narra uma viagem de um grupo de motociclistas de Porto Alegre a um encontro em Foz do Iguaçu. Nada de mais: percurso com menos de 3 mil Km. Por isso poderia dizer que o Álvaro é um boiola em escrever um livro sobre uma viagem tão "normal". Felizmente não posso dizer isso, porque para eu alcançar os méritos atingidos pelo Álvaro em duas rodas eu ainda tenho que tomar muito Toddynho...
Mas através de uma viagem "normal", "simples", ele consegue agregar valor a algo atingível à maioria das pessoas. Ou melhor: mostra que podemos agregar valor ao que fazemos em nossas vidas. Sem essa de escrever livro de viagem para Ushuaia, Alaska, ao redor do mundo; não importa o que você se dispõe a fazer: se faz com paixão e analisa o valor de cada sentimento e movimento, já está com a vida salva e com material para escrever um belo livro, capaz de encantar as pessoas.
Porque buscar valor somente no que parece inatingível? E a relatividade das coisas, dos objetivos? Para muitos, viajar de moto para Ushuaia é impensável, e para muitos é arroz-feijão. Nem uma coisa nem outra. Depende de cada um. E não há problema algum em julgar um passeio como esses uma grande aventura. É isso que o Álvaro mostra.
Se o livro não tivesse sido escrito pelo Álvaro, eu desconfiaria. Provavelmente nem o leria. Puro preconceito. Admito.
Recomendo a leitura, aproveitem o passeio. Alguns trechos interessantes:
"Um passeio de motocicleta é como uma vida: tem início, fim e meio. O meio é a maior parte, é a mais significante, é o que importa, é com ele que devemos nos preocupar. O início não está totalmente em nossas mãos, mas podemos influenciar. O fim depende do meio, e pode ser esperado, isto é, previsto ou não. O meio, este sim é que importa, então é com ele que devems nos preocupar. Com as paradas no meio da estrada, com quem encontramos nessa caminhada, como agimos e reagimos a esses encontros e desencontros.
(...) Em um passeio nem sempre tudo é maravilhoso, nem sempre tudo dá certo. Devemos estar preparados para enfrentar qualquer situação. Devedmos estar sempre preparados para aceitar o que não podemos mudar e agir quando pudermos fazer alguma diferença.
(...) George Santayana já dizia: There is no cure for birth or death just enjoy the interval (traduzindo: “Como não tem cura para nascimento ou para a morte, então aproveite o intervalo”).
Aproveite a sua vida, como se fosse um passeio, como se o objetivo fosse conhecer, aprender, crescer e passear... passear e viver, viver e passear."
E um outro trecho:
"A maioria (das pessoas) vive em função de um passado que não volta mais e e de um futuro que ainda não chegou."
Dia desses eu estava trabalhando e recebi um telefonema do Beto Marshall. Me pedindo o telefone do delegado Sezefredo Lopes de Bagé. Passei o número para ele, conversa curta, achei que o Beto queria ir combinar um churrasco daqueles que o Lopes sabe fazer. Lamentavelmente o motivo era muito muito outro: o Álvaro, que era bageense, havia falecido.
O Álvaro eu não cheguei a conhecer pessoalmente, só através dos livros mesmo. Parabéns a ele e meus agradecimentos pela sua mensagem.
"A gente vive repetido, o repetido, e, escorregável, num mim minuto, já está empurrado noutro galho. (...) Um está sempre no escuro, só no último derradeiro é que clareiam a sala. Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia." - jagunço Riobaldo - Grande sertão: veredas
É isso aí, Álvaro, é isso mesmo, Riobaldo: o real não está na saída e nem na chegada. Se dispõe para a gente é no meio da travessia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário