segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Sobre o Medo: analisando a Expedição Extremo Sul (parte 3)

Eduardo Lópes (alpinista argentino)

Creio que o grupo está preparado para uma escalada assim, mas ... [segue uma longa enumeração de diversas desculpas esfarradadas]

O tempo bom se foi, e não creio que o Sarmiento nos dê outro dia bom... [na verdade a equipe foi agraciada com vários dias de tempo aberto, o que é muito raro nessa região]


Eu sempre sabia: um dia, o medo consegue subir, faz oco no ânimo do mais valente qualquer...” – Jagunço Riobaldo – Grande sertão: veredas – João Guimarães Rosa


Nativo (alpinista curitibano)

Para carregar uma pessoa em uma maca daqui até lá embaixo precisa no mínimo de 12 pessoas ... [mais uma justificativa para não subir]

Eu fico um pouco apreensivo com isso [com o tempo bom que vinha fazendo] porque sei que a qualquer momento isso pode mudar. [se o tempo está ruim não dá (para tentar o cume) porque está ruim, e se está bom também não dá?]



Medo agarra a gente é pelo enraizado.” – Jagunço Riobaldo – Grande sertão: veredas – João Guimarães Rosa


Alpinista argentino da equipe de apoio:

Quando chegamos aqui  começamos a nos dar conta do tamanho desta  montanha. Depois de 3 minutos, quando esse colosso apareceu, pude ver que era uma loucura.

A montanha agora se nublou...
[após a primeira janela de tempo bom, e também de momentos tensos de discussão e conflito na equipe]

Não estamos a altura desta montanha. Nenhum de nós. É suicídio.

Julio Contreras – médico e alpinista chileno

Eu penso em subi-lo. Mas não agora!
Em outra expedição, talvez...

Essa montanha está absolutamente fora de minha capacidade como escalador!
[em um momento posterior à afirmação inicial]

Observem nos comentários acima a enxurradas de desculpas, que surgem em um momento de assimilação de um "medo primordial" que desencadeou o clima de desacreditação geral na capacidade da expedição em atingir ou tentar atingir o seu objetivo.

Sylvestre - diretor de fotografia

Eu tô convencido que, com a aparição da montanha, todo mundo ficou abalado, mas muito abalado, e ninguém sabe se explicar...


Acho que eu não tinha conciso medo dos perigos: o que eu descosturava era medo de errar — de ir cair na boca dos perigos por minha culpa. Hoje, sei: medo meditado — foi isto. Medo de errar. Sempre tive. Medo de errar é que é a minha paciência. Mal. O senhor fia? Pudesse tirar de si esse medo-de-errar, a gente estava salva. (...) Um ainda não é um: quando ainda faz parte com todos.” – Jagunço Riobaldo – Grande sertão: veredas – João Guimarães Rosa

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