No posto da cidade, conhecemos um americano da California (não me recordo mais seu nome). Vinha de lá em direção a Ushuaia em sua Harley. Nessas ocasiões a empatia é imediata, dois MOTOviajantes sempre buscam conversar, se conhecer, trocar informações.
CENA 1:
Um americano conversando com dois brasileiros (Eu e a Antonela), no pátio do posto - Estación de Servicio.
O americano falando em um espanhol digno de um americano que NÃO sabe falar espanhol.
[o que deu prá aprender do México para baixo em alguns meses alijado da língua inglesa]
Os brasileiros falando com o americano em inglês fluente (Eu e a Antonela falamos bem a língua inglesa).
O americano respondendo na mesma modalidade de espanhol descrita acima.
A conversa durou uns 15 minutos na qual falamos de diversos assuntos, sem que o americano pronunciasse uma só palavra em inglês (e nós SÓ falando em inglês!).
Nos despedimos, ele com um Hasta Luego! e nós com um Peace and Happiness!
COMENTÁRIOS
Imagino o cidadão saindo da California rodando até Tocopilla. Dias e dias no lombo da moto, lugares desconhecidos, gente idem, idioma também desconhecido. O tempo passa, a rotina é composta por acordar, percorrer o trajeto do dia, assegurar que a MOTO funcione e tenha combustível, que o corpo tenha alimentação e pouso ao anoitecer, em uma sequência interminável de dias.
Nessa rotina, em que horas e horas a sós dentro do capacete se alternam com alguns instantes de [tentativa de] socialização em língua espanhola, a estrada funciona como um mantra, e o ser encontra um novo estado de consciência.
Nesse estado, a vida é simples (composta pela rotina acima descrita), a mente se livra de tudo o que foge a isso, e o ser está pronto para viajar por meses consecutivos entoando o seu mantra, sem se preocupar em ir ou estar.
Um estado tão peculiar que faz com que a pessoa se esqueça até de que sabe falar a sua língua materna, e prefira falar uma língua que não sabe falar.
Essa é a conclusão que eu retiro desse insólito encontro. Eu já entoei esse mantra e posso testemunhar que realmente entramos em um estado mental diferente. Você já vivenciou algo parecido?
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